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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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Desde 2008"a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

sábado, 2 de janeiro de 2010

A situação cultural de hoje...

A Pele e a Terra

Se me perguntam qual é a situação cultural em Portugal neste momento, respondo com outra pergunta: a que é que chamamos cultura, hoje?
Porque essa palavra, esse conceito, não tem o mesmo significado para todos – sobretudo hoje, em que se ouve falar de «cultura de responsabilidade», «de civismo», «de transparência», disto e daquilo, como se afinal tudo fosse ou pudesse ser cultura. Como se a cultura fosse um somatório de comportamentos ou de princípios morais e éticos.
O que não é forçosamente errado – é simplesmente diferente da noção de cultura que nos foi incutida desde o século XIX: a cultura era sobretudo o campo das artes, das letras e das ciências; culto era o sujeito capaz de se deixar encantar com um certa ária de ópera, uma cantata de Bach, um soneto de Camões, uma página de Cervantes, Balzac ou Eça, uma escultura grega, um quadro de Rembrandt, etc. – e de os saber reconhecer e identificar.
A cultura é uma invenção europeia, como quase tudo, e também ela teve de sofrer as vicissitudes da História deste nosso continente. Convém lembrar aos mais esquecidos que em Outubro de 1914, com a I Guerra Mundial já a mostrar a sua inédita capacidade de destruição, um jornal de Berlim publica um célebre manifesto no qual noventa e três sábios de renome mundial, entre eles diversos prémios Nobel, defendiam a causa alemã como sendo a que representava a «Kultur», em contraste com as tendências corruptoras da «Zivilisation» moderna, mecânica e sem alma, representada nesse conflito pelas forças aliadas contra a tal Alemanha culta.
É igualmente oportuno lembrar o que escreveu George Steiner num livrinho precioso intitulado «No Castelo do Barba Azul – Algumas Notas para a Redefinição de Cultura»:
«Poucas tentativas se fizeram no sentido de ligar o fenómeno de primeira grandeza da barbárie do século XX a uma teoria mais geral da cultura. Foram raros os que puseram ou sondaram a questão das íntimas relações existentes entre as formas do inumano e a matriz ambiente contemporânea da civilização avançada. Mas o certo é que a barbárie que sofremos reflecte, em numerosos pontos precisos, a cultura de onde brotou e quis profanar. A arte, as investigações intelectuais, o desenvolvimento das ciências da natureza, múltiplos sectores de actividade universitária floresceram numa estreita proximidade espacial e temporal relativamente aos campos de extermínio. (...) Porque é que as tradições humanistas e os modelos de comportamento correspondentes se revelaram defesas tão frágeis contra a bestialidade política? De facto, seriam uma defesa, ou será mais realista identificarmos na cultura humanista apelos expressos ao autoritarismo e à barbárie? Não vejo como um debate sobre a definição de cultura e sobre a viabilidade da ideia de valores morais possa evitar estas questões. Uma teoria da cultura, uma análise da nossa situação de hoje, que não logre considerar no seu eixo as modalidades do terror que levou à morte, por meio da guerra, da fome e do massacre deliberado, cerca de setenta milhões de seres humanos na Europa e na Rússia, entre o início da Primeira Guerra Mundial e o fim da Segunda, não pode deixar de me parecer irresponsável.»
«Compreendemos hoje que as manifestações extremas da histeria colectiva e da selvajaria de massa podem coexistir com uma conservação e até um desenvolvimento simultâneos das instituições, organismos burocráticos e códigos profissionais da alta cultura. Por outras palavras, as bibliotecas, museus, teatros, universidades, centros de investigação, nos quais e através dos quais a transmissão das humanidades e das ciências tem fundamentalmente lugar, podem prosperar na vizinhança dos campos de concentração.»
E o mesmo Steiner a lembrar-nos que os torcionários e manipuladores das câmaras de gás eram muitas vezes conhecedores ávidos ou mesmo executantes das composições de Bach e Mozart, ou admiradores e estudiosos de Goethe e Rilke.
A essas observações, escritas em 1971 mas que continuam actualíssimas, podemos nós acrescentar que nesses mesmos anos 40, mas do outro lado da barricada, se inventou o «bombardeamento cultural» («cultural bombing») -- os bombardeiros aliados arrasaram sistematicamente alvos culturais alemães, como a Biblioteca Nacional de Munique (500 mil livros destruídos) ou a biblioteca universitária de Hamburgo (625 mil livros) – no total, cerca de oito milhões de livros consumidos pelo fogo. Apenas alguns exemplos desse catastrófico cenário de destruição, a que a cultura não escapou.
E tudo isso faz parte da nossa herança, por mais que nos doa. Ou por mais que tudo façamos para o ocultar na «cultura de amnésia» hoje vigente -- porque a memória só é exigida aos nossos computadores... Os mesmos computadores em que brincamos com jogos de guerra, aliás. Isto porque, já agora, também vigora hoje uma «cultura de virtualidade» em que nada é real (até nos tocar na pele) e tudo é «faz de conta».
A grande vencedora dos dois maiores conflitos mundiais foi a cultura americana. E um dos dados dessa mesma cultura é o espectáculo, sob as formas do cinema e da televisão, obviamente, mas também das outras artes e sobretudo dos nossos comportamentos: não preciso de ser realmente isto ou aquilo, basta que pareça (e apareça) assim aos olhos dos outros, numa cultura em que tudo se mostra e deve ser mostrado («público» e «privado» confundem-se). Se eu não aparecer na televisão, nos jornais, nas revistas, na Internet, é como se não existisse: estou social e culturalmente morto. Apareço (e pareço), logo existo...
Outra vencedora, e de matriz americana, do violento século XX foi a informação, tantas vezes confundida com a cultura. E confundindo mesmo os espíritos mais perspicazes, como o mediático Umberto Eco: «Cultura não é saber quando morreu Napoleão. Cultura significa saber como vou descobrir isso em dois minutos» ... Mas, digo eu, esse saber não é sabedoria nem é cultura, continua a ser informação. Uma informação omnipresente na nossa sociedade maioritariamente urbana, através da televisão, da rádio, dos jornais (cada vez menos), da Internet, da publicidade – palavras e imagens competindo entre si para nos darem conta do que se passa à nossa volta. Mas dentro de nós, quem nos diz como somos e estamos?
Todos nós conhecemos pessoas famosas por serem «cultas», exemplares nos diversos ramos da cultura erudita, mas que, quando nos aproximamos delas, se revelam seres humanos pouco edificantes, às vezes execráveis, ou simplesmente tão desinteressantes que nos levam a perguntar: mas como é que uma pessoa assim conseguiu criar uma obra tão bela...? Pessoalmente, tendo passado por demasiadas experiências penosas desse tipo, considero que estamos perante um dos enormes mistérios da criação...
É como se a tal cultura fosse apenas uma pele, ou uma capa, um acessório alugado num guarda-roupa cultural, e destinado a figurar neste baile de máscaras global.
«Global» -- aí está outra palavra que faz parte do nosso vocabulário cultural contemporâneo. E com toda a razão: a cultura que temos hoje é sobretudo global, ou seja, de matriz americana. Tal como outrora todos os caminhos (aliás, estradas romanas) iam dar a Roma, também hoje os nossos modelos vêm da América – mesmo o «multiculturalismo» veio de lá ...
Nesse aspecto a informação disponível é muito útil para fazermos estas comparações e sabermos a quantas andamos e o que nos querem impingir sob a capa da «originalidade». E que alimenta a chamada «indústria cultural», expressão horripilante que também nos chegou dos EUA, evidentemente (ainda está por fazer o rol dos malefícios da industrialização ...)
Um dos modelos culturais que hoje impera é o do horror disfarçado com o rótulo de «arte» e vendido por bom preço, graças ao nome que aparece na assinatura (os nomes, hoje, não têm significado espiritual – têm valor de mercado!) Sempre que me acontece entrar numa galeria ou até mesmo em casa de alguém e deparar-me com essas monstruosidades, além da dor que isso me provoca, dou por mim a perguntar: como é que se pode ter uma coisas destas diante dos olhos e não gritar, não adoecer, não ficar furioso com a humanidade...?
Talvez o Steiner tenha razão quando comenta: «Se fitarmos o medonho com demasiada insistência, acabamos por nos sentir insolitamente atraídos pelo medonho. Por vias estranhas, o horror mobiliza-nos a atenção, e concede às nossas capacidades limitadas uma ressonância de artifício.»
Tudo isso se aplica naturalmente ao caso cultural do nosso País, acerca do qual se deve ainda perguntar se a cultura que temos é mesmo nossa, se contém algo que seja especificamente português, ou se é apenas «global», como agora é moda e imperativo.
Nestes cem anos da «Águia», vem a propósito referir o que um dos seus vultos maiores, Teixeira de Pascoaes, escrevia em «Arte de Ser Português»:
«Ser português é também uma arte, e uma arte de grande alcance nacional, e, por isso, bem digna de cultura. (...) O fim desta Arte é a renascença de Portugal, tentada pela reintegração dos portugueses no carácter que por tradição e herança lhes pertence, para que eles ganhem uma nova actividade moral e social, subordinada a um novo objectivo comum superior. Em duas palavras: colocar a nossa Pátria ressurgida em frente do nosso Destino.»
Pascoaes escreveu esta cartilha cívica para ser ensinada nas escolas fundadas pela República. Agora que se assinalam cem anos da implantação dessa mesma República, o que faremos com este testamento espiritual do poeta, até agora nunca posto em prática?
Um outro poeta da mesma geração, Pessoa, afirmou que a cultura é um fenómeno espiritual e que a pátria era a nossa língua. Face a esses dados que fazem parte do nosso legado, que pátria é a nossa, quando a língua que hoje temos está reduzida a um léxico mínimo e a uma invasão de palavras e expressões americanas, usadas no original ou traduzidas à letra? Exemplos: timing, opinion makers, media (lido como «mídia»), outdoors, glamour, target, staff, procedimentos, corporações, janela de oportunidade, ícone, agendas, basicamente, interacção, pró-activo, no fim do dia, postura – e assim por diante...
O Pascoaes (sempre ele!), na mesma obra de 1915, definiu as características da alma portuguesa como sendo: termos uma língua e instituições próprias, uma História e antepassados exemplares, paisagem, gastronomia, igualmente próprias, e uma relação particular com o mar. Ora a língua está gravemente ferida, as instituições foram copiadas dos outros, a História é desprezada ou mal ensinada, os antepassados são meros desconhecidos, os monumentos estão a cair, a gastronomia ainda resiste apesar de ameaçada pela «nova cozinha» vinda do estrangeiro, a relação com o mar só subsiste nos pescadores que nos restam. Esse mar que foi o nosso deserto de nómadas e através do qual chegámos aos Orientes ... E hoje? Onde vamos? Fazemos turismo (os que podem) ou emigramos (à força, outra vez). Nem sequer conhecemos este País nem o seu património, nem a sua História. Geralmente são estrangeiros aqueles que nos mostram as riquezas que temos – e depois nós ficamos muito admirados...
Creio que a cultura não pode ser desligada da agricultura, no sentido em que qualquer cultura nasce da relação com uma certa terra e aqueles que a habitaram antes e habitam agora, e que a lavram misturando o seu suor com o húmus. Cultiva-se o espírito como se cultiva a terra. A cultura de um povo constitui a identidade de um certo grupo humano situado num determinado território ao longo de um certo período.
Creio, igualmente, que a chamada cultura, sempre ligada com a curiosidade e com o gosto de aprender, é o que nos permite ligar todas as coisas entre elas até formarem um tecido – como quem faz tapeçaria. É um entrelaçado ou um acto de amor.
Creio, finalmente, que a Bíblia está certa quando apela ao homem justo, e não ao homem culto; ao estudo, e não à enciclopédia; ao coração amoroso, e não à biblioteca recheada. Porque a sabedoria vem do coração, é coisa íntima, e a cultura, como sabemos, é demasiadas vezes uma simples pele, fina e frágil.
Afinal de contas, de que me serve ser «culto» se não cultivar esta terra que eu sou? Cultivá-la de modo a que dê frutos que alimentem os outros, os que têm fome.
De que me serve a cultura se ela não fizer de mim um ser humano melhor?
Mas claro que ingénuos como eu nunca terão cotação no tal mercado global.

António Carlos Carvalho

7 comentários:

Elfei disse...

Achei seu texto bastante elucidativo, deveras vejo cristalizado em suas palavras muitos dos meus pensamentos.

Curioso como basta-se mudar o nome de "Portugal para Brasl" para o seu texto ser igualmente pertinente ao que se entende como "cultura" do Brasil.

Mas se me permite desviar um pouco do foco, acredito que a cultura, a eterna formação da cultura e do conceito de identidade de um povo, como subjetivos conceitos e eternamente mutáveis são formadas a partir de fenômenos sociológicos e organizacionais.

Talvez eu, como brasileiro, como "Afrancesado", "Aportuguezado", "Africanizado" e finalmente "Americanizado" entenda um pouco melhor esse tipo de conflito que você explicita, não com brios de superioridade, mas me entendendo como um ser "de multietnicidade e multiculturalidade" não posso ignorar o quanto de "identidade" sobra disso tudo.

Podemos dizer que a globalização torna a "cultura global" uma massa industrializada e rentável, transformando etnias, povos e tradições em verdadeiros clichês, afinal, como diferenciar elementos tão próximos como o samba do Brasil e o samba da Angola?

Você faz questionamentos a respeito da identidade, versa sobre a sabedoria, e o reino dos justos, mas há que se pensar, quanto disto não é um conflito "injustificável?"

Falo isso por acreditar que o fenômeno cultural Português é, como todo fenômeno cultural Europeu, uma conjuntura de fatores organizacionais próprios de cada "país" ou nação, em torno de arquétipos sociológicos e adaptações regionais, e todas as implicações que isso simboliza. Quanto da cultura de Portugal, como hoje é conhecida, de fato não foi influenciada pelos mouros? Pelos ancestrais hispânicos, Ceutas entre tantos outros que formaram o que hoje se tem como nação Portuguesa?

Mesmo indo menos longe, períodos da renascença, a efervescência Cultura lá e cá e a confluência de artistas de distintas origens e estilos, sendo apreciados cada qual em sua integralidade, mas criando um conceito indistinto de "Europeu".

Talvez como "ex colônia" entenda e visualize de forma muito mais acelerada o esquecimento de velhos hábitos, aculturamentos sutis, o internetês irritante e tão fortemente atuante, bem como o americanismo da linguagem falada e escrita, mesmo em conversas cotidianas.

Mas analisando o quadro inteiro, percebo que isso não é uma característica exclusiva do Português, ou do Brasileiro, ou de qualquer nação lusofônica, faz parte do ser humano interagir, modificar-se, e não necessariamente a interação se dá por intermédios naturais (você usa as relações comerciais e a visão de "lucro" do homem moderno, oras, não foram elas que ligaram o ocidente ao oriente? e a Europa à Àfrica? Séculos atrás?).

Elfei disse...

Também não acho justo culpar os americanos por promoverem seu bombardeamento cultural, ininterrupto desde a segunda guerra diga-se de passagem. Porque este processo de globalização iniciou-se graças a vocês mesmos, Portugueses, que a título de curiosidade, necessidade de comércio, ampliação de terras, ou seja lá que motivo histórico pomposo encontrem para justificar suas andaças pelo mundo desconhecido promoveram o início do processo todo. Ou teria sido Alexandre o Grande, que expandiu o império Romano a níveis nunca dantes navegados?

Não sei, portanto, qual o espanto. O ser humano, antes de qualquer nível de indentidade, quando encontra-se aglutinado, num nível sociológico relativamente sustentável e cômodo procura sempre galgar algo além, abre suas asas e desafia os céus, fura a atmosfera, conquista a lua...Parabéns, descobriu o fenômeno que é o ser humano, criatura ilógica, irracional, que foge à toda e qualquer lógica palpável e humana (curioso não?).

Claro que a mudança sempre gera insatisfação, mas a identidade que sobrevive, o justo e o sábio em concílio, é aquela que melhor absorve as mudanças e as tipifica. Hoje vejo com orgulho o quanto nós, Americanizados brasileiros, somos capazes de deturpar as referências estrangeiras e transformar termologias de origens tão distintas em algo genuínamente brasileiro.
Talvez por esse motivo nós, como uma nação em formação e uma cultura em desenvolvimento, não vejamos com os mesmos olhos críticos e serrados todo este bombardeiro, porque, bem diferente dos Norte Americanos, que cristalizaram uma postura, uma visão de futuro, uma visão de progresso e que no fundo estão longe de serem de fato multietnicos (não basta ter negros, amarelos, brancos e ruivos para ser multietnico, a distinção racial tem de ser algo menor, na minha visão, e esta realidade por lá está longe de existir, enquanto negro não se relacionar com branco, branco com amarelo, amarelo com latino, não se forma uma sociedade coerente, logo, a cultura vigente não mudam naturalmente ou mesmo de forma pacata, são várias que funcionam independentes, mas a America BRANCA, do "american way of life" é a que dita todas as regras, como boa anfitriã megalômana e ditatorial, ao menos isso tenho orgulho de dizer, cá, em terras brasileiras isto não existe, posso Odiar o funk das favelas, e como odeio, mas jamais poderei dizer que não compartilho de origens semelhantes, independente do fato de morar em frente à praia, em um dos endereços mais nobres e caros das Americas, tenho minhas raízes no samba, mas também na Edith Piaf, bem como um pé na turquia e outro em Portugal).

Mas isso não é questão nacionalista, acredito que está no Modos operandis Português (influência do latinismo na língua inglesa, deveria dar uma pesquisada nisso, eles também falam Português e Latin e nós nem sabemos) acredirar-se invadido, é uma característica da Nação portuguesa que talvez quem esteja de fora visualize com muito mais clareza que o próprio Português, existe, portanto, no Português uma identidade facilmente e fortemente reconhecível e que não se perderá, porque encontra-se em níveis muito mais profundos do que o verniz da cultura, talvez por compreender tão bem isso eu, como brasileiro fusionado culturalmente, me identifique e reconheça qualquer outro brasileiro em qualquer outra parte do mundo, nós, como vós, somos únicos, identidades em eterna formação, mas sempre rumando positivamente ao futuro.

Paulo Pereira disse...

Quando uma pessoa normal aprende a andar de bicicleta ou a nadar muito raramente esquece. No entanto, todos nós já temos a experiência de que muitas vezes estudamos para um exame e passado um mês já esquecemos um tanto, passado um ano mais um tanto e passado dez anos muito pouco resta do que estudamos para isso. Dentro deste contexto, a seguinte, é para mim a melhor definição de cultura que alguam vez ouvi.

"A cultura é aquilo que resta de pois de se ter esquecido tudo aquilo susceptível de ser esquecido"

Quando vim viver para o Brasil, reparei desde logo em muitos setores um deficiência no atual ensino Brasileiro. O ensino foca muito mais o mero conhecimento (passageiro) do que a cultura.

Vou dar um exemplo. O ensino da gramática portuguesa me parece muito mais sofisticado e exaustivo aqui no Brasil. De tal forma que muitos portugueses ficariam surpreendidos ao fazer um exame de português no Brasil. Aquela ideia que poderíamos ter maior facilidade, por no dia a dia falarmos mais perto do padrão (mesmo havendo variantes nos padrões nos dois países que formalmente são bem fáceis de aprender) pode não vingar.

O brasileiro pode saber exaustivamente quando se aplica "isto" ou "isso" no exame do vestibular, melhor que um português. No entanto, facilmente se esquece, na sua maioria; não digo só na fala do dia a dia, mas mesmo quando deseja aplicar eruditamente.

Penso ser importante um ensino masi para a cultura do que para a satisfação do EGO que poderá dizer "Eu uma vez soube tudo..."

Elfei disse...

O ensino da gramática é exaustivo realmente, de qualquer que seja a língua lecionada por cá.

Sei de detalhes gramaticais e lexicais da Língua francesa, Inglesa e até do Latin (acho que só entendo a língua Portuguesa e toda as questões léxicas da mesma por conta do aprendizado que tive da Língua latina).

Verdade seja dita, tive uma educação cultural muito pujante também, essa realidade que você evoca não se aplica a absolutamente todas as escolas do país, se for analisar as melhores, as que melhor preparam o estudante para a vida (e não necessariamente para o vestibular, apesar dos números indicarem que boa parte destas escolas também tem excelência na formação acadêmica preparatória para o vestibular). Verá que muitos deles tem um interesse cultural muito grande.
Ps: Mas o vestibular no Brasil é um processo altamente traumático, à minha época enfrentei verdadeiras maratonas, horas e horas de provas, dias e dias de provas, um ano de preparação ininterrupta, estresse, pressão familiar e no fim não entro por causa de cotistas, o que pra mim selou a falência desse tipo de avaliação como válida. Eu, com 87% de aproveitamento do vestibular, com pontuação altíssima em todas as "matérias", não entro nas vagas por conta de um grupo de cotistas cujo aproveitamento se chegou a 60% é muito. Às favas, querer promover igualdade desta forma é minar a educação de nível superior do país, convivo no ambiente de universidade Privada e universidade pública, concomitantemente, e acho um absurdo como o estudante universitário, notadamente os cotistas, são iletratos e bastante deficientes em inúmeros níveis, como uma pessoa dessas pode conviver num ambiente universitário com alunos cujo índice de entrada passa dos 90%?
Mas voltando ao ponto principal, de fato o vestibular não testa efetivamente as habilidades de alguém, hoje em dia enxergo claramente pelas regras do "mercado", nada me preparou para os estágios que fiz, para os lugares que trabalhei, sorte minha ter estudado tanto outros aspectos fora "a quantidade massiva de temas lecionados" nas escolas, isso me deu jogo de cintura para lidar com um cotidiano totalmente diferenciado do cotidiano de minha adolescência.

Mas entendo de que realidade você fala, acho que isto virou uma questão familiar também, as famílias brasileiras estão num processo de declínio cultural, caindo na mesmisse de sí mesmas e aferindo poucos valores morais, éticos e culturais aos seus filhos, e há que se dizer, protencionismo está em níveis alarmantes, tomei nojo das reuniões de pais e mestres. É um dizendo milagres de seus filhos, milagres esses que não são demonstrados em nível algum nas aulas, não só pelo déficit de atenção, mas pela falta de respeito em si, pelo escárnio gratuito, pela simples falta de educação moral.

Não sei mensurar as consequências desse processo como um todo, e duvido de qualquer um que diga poder medir, a longo prazo, no que isso culminará.

Elfei disse...

Mas é facto, está "se lendo mais" e o interesse voltou a crescer nos níveis mais básicos, para mim, que vivo do mercado editorial e gráfico tenho visto anualmente o meu setor crescer, timidamente, em volume de trabalho, mas ao menos parou de decrescer em relação a uns 10 anos atrás.

Só espero que os livros "de luxo" comecem a ter mais conteúdo que imagens e sejam menos contemplativos e mais informativos...essa cultura da "imagem" e do "som" não pode, em nível algum, intervir na leitura no sentido de substituí-la, devem ser, portanto, complementares.

Mas não entendi porque o seu comentário, Paulo, foi uma resposta à minha brasilidade, não ao conteúdo do que disse O_O.

Se bem que boa parte do conteúdo do que disse passou, irrevogavelmente, pela brasilidade.
Só que não posso deixar de pensar que falamos de cousas diferentes, você fala em níveis minimalistas, na essência do todo.

Digamos assim, na tendência do "menos é mais".

Enquanto eu falo na cultura como um conceito mais construído, mais amplo, ou seja, que inegavelmente uma cultura sendo intermitentemente mutável nada mais natural que novos fatores a modifiquem em mais ou menos níveis.

Entendo que você fale de essência, mas na minha concepção essa essência, o expurgo a tudo aquilo que se considera dispensável, não transfigura-se em cultura, mas a uma noção social, a uma visão de grupo, bem dizer, um nicho.

Entenda como enxergo de forma adversa da sua, entendi, pelas suas palavras, que o ensino no Brasil prioriza a quantidade de temas desenvolvidos, e o preciosismo que pode-se obter nisso, afora as questões de aplicabilidade mercadológica e lógica desta mentalidade, e a inexistência de um conceito cultural sendo lecionado.
Não posso dizer que concordo integralmente, porque, como já disse, faço parte de uma pequeneníssima margem da população que teve uma educação crítica e cultural extremamente profunda e forte, não só pela quantidade exorbitante de matérias (Onde estudei, a % de alunos que chegam ao último ano sem absolutamente nenhuma repetência era de apenas 1%, entrei nas classes de alfabetização com cinco anos, com uma grupo aproximado de 300 crianças, ao fim, apenas uma além de mim se formou sem repetência alguma, e há que se comentar, ainda mais raros são aqueles com índices de aproveitamento médio acima de 80%, o que foi o meu caso - mas estes números todos nada dizem no fim das contas, o que levo para a vida do que aprendi foram todas as aulas de latin, grego, francês, espanhol e Inglês, sociologia, Filosofia, mitologias, nacionais e Européias, e "Educação para Cidadania", resumindo tudo aquilo que não tem absolutamente nenhuma importância no vestibular).

Acredito que a única deficiência que tive nesta escola foi o ensino de Física, e acredito que isto tenha sido por conta da intervenção do MEC que retirou o ensino dos conceitos de física de séries mais baixas, o que foi determinante na queda da qualidade neste setor - no país como um Todo - Não vejo lógica os conceitos não serem transmitidos anos mais cedo, se aprendemos os conceitos dos filósofos Pré e pós Socráticos a Física básica não parece tão complexa.

Elfei disse...

Estou na minha segunda faculdade, afinal no Brasil agora tem uma "cultura" de todos terem de fazer "universidade", o que joga diplomas únicos ao lixo no mercado de trabalho, e fico pasmo com a falta de bases de 99% dos alunos que conheço, seja o domínio puro e simples da norma culta, baixíssimo, seja o domínio de conceitos filosóficos básicos, ou mesmo o entendimento de um amplo conceito cultural - e não falo do verniz, não falo de saber "o nome de poetas e escritores famosos ou obscuros" mas falo o "entender o que eles disseram", a capacidade de concatenar conceitos e se exprimir através de conceitos próprios, ou, ao menos de criar, sem necessidade de citações, um conhecimento geral de coisas que lhe sejam importantes. É avelha qualidade do "ter o que falar"...E neste campo me vejo num semiárido típicamente brasileiro, "acima" uma elite emburrecida mas que é capaz de decorar nomes de nulidades e personalidades obscuras e ao mesmo tempo desconhece o significado do que dizem, ou pior ainda, sequer entendem.
Enchem a boca para citar "frases memoráveis dos escritos de Paulo Coelho " (me perdoem os que gostam, mas não suporto, em nível algum, esse escritor, e olha que tentei entender o porquê de ser tão lido mundo afora, acredito que a ignorância da grande mediocridade mundial abraça qualquer um que se proponha a uma linguagem rasa e de fácil absorção), mas quando procura tecer uma conversa mais inteligível e raciocinada do que citada são incapazes de emitir opiniões fundamentadas em conhecimentos próprios e aprendidos, adquiridos a partir de observações próprias...muitos emulam eternamente pensamentos de terceiros em busca de uma notoriedade vazia e emburrecida e o segundo mundo, afora este, é a nulidade cultural geral. É a indistinção de qualidades das influências a que é acometido, enxergar Roberto Carlos (que já não gosto) e "Mc Marcinho" como a mesmíssima coisa e terem seus níveis críticos atrelados à política do " pão e circo".

Ou seja, Brasil não anda lá tão bem das pernas, uma intelectualidade ignorante e esnobe, pseudo qualquer coisa, e uma massa ainda mais ignorante e acrítica (quase acéfala).

Mais um mérito ao governo LULA, finalmente, a campanha da leitura, da busca à cultura tem voltado, e com força, nos níveis mais básicos...voltamos a caminhar rumo à formação de nossa cultura, formação não, consolidação...só espero que não seja fogo de palha.

Paulo Pereira disse...

Um rol exaustivo de casualismos e convecionalismos é necessário a um especialista. Aos outros se devem dar mecanismos centrais e abstratos que facilmente os faça chegar lá e os absorver facilmente por osmose. Este último tem muito mais a ver com cultura. Quem não é especialista facilmente esquecerá, e mais odiará, esse rol complicadíssimo de casos.

Vou dar um exemplo: a famosa "crase" (à) no Brasil. Posso confessar que, se tinha aprendido esse termo, me tinha esquecido...

Quase não há no Brasil pessoa que não saiba o que isso é, no entanto, pouquíssimas sabem usar convenientemente.

Quando vi como as pessoas estudavam a "crase" logo entendi porque tanta juventude se rebela contra o português e passa a falar "manocaipirês".

Minha mulher, que já foi professora universitária, errava muitas vezes. Alguns deputados tão frustrados com o seu uso quiseram propor a abolição da crase.

Com uma simples frase, minha mulher nunca mais errou.

"Imagina que estás a falar espanhol, se disseres 'a la' é um caso de crase, e não te preocupes em não saber espanhol, quanto menos souberes mais acertarás".

Isto pode parecer ridículo e até piada de português... No entando funcioanou inexoralvelmente. Isto é cultura...

Elfei, obrigado pelos teus comentários e desculpa minha ingenuidade e simplicidade mas não tenho tempo para mais... Penso, no entanto, que posso estar contribuindo com algo.