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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Camelot

Não é preciso dizer-vos quem é este senhor da fotografia, um dos líderes mundiais emergentes no mundo globalizado e pós 11 de Set... hum. Ok. É melhor começar outra vez.

Este senhor, o famoso Lloyd Blankfein... também não? Céus. Não são cidadãos informados?!

Vamos lá então. Este senhor foi convidado no dia 14 de Dezembro por Barack Obama para discutir problemas fundamentais do nosso mundo: não compareceu. Foi há dois dias convidado pelo Bank of International Settlements (aquilo que há de mais parecido com um conselho coordenador dos bancos centrais do planeta) para uma reunião de alto nível sobre a possível retoma, por parte dos mega-bancos, das políticas de alto risco que conduziram à crise económica que atravessamos; anunciou que não comparecerá.

Este senhor dirige uma coisa mais poderosa do que a maior parte dos Estados, que afecta a nossa vida quotidiana sem que nada possamos fazer quanto a isso; uma coisa que não vem em nenhum mapa do mundo porque está em todo o lado no mundo; uma coisa que não é uma democracia, que não tem uma constituição, que funciona a um nível que nenhuma lei de nenhum Estado do mundo consegue reger satisfatoriamente. Este senhor dirige a Goldman Sachs, um dos tais bancos "grandes demais para falir". É sem dúvida inteligentíssimo, possivelmente um excelente pai de família; não deve ter caves secretas com prisioneiros, não planeia desviar aviões, não sonha com a anarquia. Seria provavelmente utilíssimo numa reunião de pais na escola onde temos os filhos, simpático como vizinho no prédio. Podemos gostar dele à vontade, convidá-lo para nossa casa (penso que também não virá). O que não podemos é permitir que mamutes como a coisa que este senhor governa continuem a governar e a desgovernar o mundo - como se o mundo fosse um campo aberto à voracidade do lucro, à ganância do ganho, à ilimitação das ambições. O que não podemos é conhecer a cara e as ideias do senhor Sarkozy, do senhor Lula da Silva, do senhor Barroso, e julgar que isso basta para nos proteger (ou desproteger).

O que digo é que é preciso parar com este circo. Mas digo também que não é possível pará-lo dentro das regras do jogo, ou seja, por via da lei feita por governos democraticamente limitados e preocupados com o bem-estar dos seus cidadãos. Deixar viver estas mega-empresas significa deixar transformar o mundo numa coutada de animais vorazes; mas liquidá-las significa o suicídio do nosso 'mundo avançado'.

Não há Pátrias, nem povos, nem ideologias, nem estratégias, que signifiquem o que quer que seja de relevante enquanto não enfrentarmos a sério este estado de coisas. Bancos demasiado grandes para falir são demasiado grandes para ser controlados pelos Estados. E repito, aos mais distraídos: liquidar estes mamutes significaria provavelmente o colapso da civilização tal como a conhecemos; mas deixá-los viver é para todos nós uma bomba-relógio.

Talvez possamos, então, pedir a este senhor que pelo menos compareça às reuniões, ou explique publicamente porque o não faz. A nós, que não sabemos nada de finanças, que não sabemos ser artistas deste circo financeiro, que apenas podemos votar em pequeninos politicos da pequenina dimensão dos nossos Estados.

De resto, sou o primeiro a lamentar. Também gostava de um mundo simples, onde à voz do rei se erguessem trombetas e isso bastasse. Também gostava de viver em Camelot.

10 comentários:

Renato Epifânio disse...

De facto. Apetecia-me dissertar, a este propósito, sobre a subtil, abissal diferença - ou a não necessária coincidência - entre República e Democracia. Mas hoje já fui politicamente incorrecto o quanto baste. Talvez amanhã...

Vítor Mácula disse...

Bem, e a pergunta seguinte é: Como combater eficazmente este estado de coisas? David e Golias? Associação Internacional de Estados? Movimento Internacional de X?... Por ora, parecem-me ambas altamente improváveis: a primeira porque o David não tem pedras para pôr na funda; a segunda porque a política contemporânea trata essencialmente da actividade constitutiva deste estado de coisas.; a terceira porque é uma mistura das duas anteriores.

Digo isto talvez mais para (me) chatear. A verdade é que David tem pedras, e que a sua eficácia histórica não pode ser medida pelo critério, precisamente, do estado de coisas: são os rios que correm sob o solo que desaguam muitas vezes nas mais fortes e límpidas fontes; e por outro lado, a política contemporânea não é um sistema fechado que se reduza ao mantimento e crescimento dos internacionais e cegos poderes financeiros. Todavia, a questão não perde acutilância: é aliás e também assim - que se pesam pedras e afina a pontaria ;)

Um abraço, Casimiro, Renato.

PS: o CD do Teixeira que vem na Nova Águia e que tão generosamente me coube, tem uma parte em que a voz do Teixeira se duplica fantasmagoricamente; não sei se foi acaso gótico (uma pedra-lume do David de Pascoaes para incandescer as suas palavras-fogo) ou decisão técnica e estética da Nova Águia; e se fôr o único CD que assim ficou: HOSSANA NAS ALTURAS lol faço duplicados a quem me der um cd virgem ;)

Klatuu o embuçado disse...

Acho que faltou deixares mais aclarado que LLoyd Blankfein é apenas um alto funcionário, um dos mais bem pagos executivos do mundo - de qualquer modo, um assalariado (ainda que com uma fortuna considerável). Não fundou nenhum banco, e como tal a ordem de entendimento que tenho acerca dele é bem diversa: quem de facto decide da economia do mundo contrata a peso de ouro gente mais capaz do que a maioria dos políticos que, pretensamente, governam o mundo...

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Casimiro, concordo que estamos perante um impasse civilizacional difícil de ultrapassar, mas só a instauração de uma cidadania global desvinculada das malhas tecnocráticas subjugadas pelas grandes forças económico-financeiras poderá um dia vir a garantir à Humanidade a real efectivação dos Direitos Humanos e consubstanciar a práxis de uma ética quotidiana! Sem isso o paradoxo persistirá sempre...

Renato Epifânio disse...

Apenas um comentário ao P.S. do Vítor: não é defeito, é feitio...

Abraço MIL

Fata Morgana disse...

Eu vivo em Camelot, que em Portugal se chama Ucanha... (magia, claro) e fica pertinho da casa do Egas Moniz.

Quando a bomba-relógio explodir, não vou saber a que horas "morri" e só graças ao teu post e aos comentários saberei porquê. :)

Mas nada posso fazer contra esta preferência pelos cavaleiros da Távola (e ainda há alguns, como Vós, Sir Ceivães de la Rivière ;)

Vénia.
Fata Morgana

Vítor Mácula disse...

Com o Pascoaes, só podia, Renato ;)

Casimiro Ceivães disse...

Cada um dos comentários levanta questões muito importantes, que espero possam continuar a ser debatidas.

Renato, "República" não sei o que seja. O ponto fundamental, na questão da "democracia", é o de saber se o poder legislativo tem, ou não, limites. Limites 'de facto' não terá nunca: nada impede que alguém reedite, hoje, o célebre decreto de um imperador romano que fez senador o seu cavalo favorito. Mas limites 'de legitimação', que antigamente eram buscados na ideia de 'direito natural' e hoje na ideia de 'direitos fundamentais', sim... outra questao é a de saber como definir o âmbito desses direitos, que são uma área proibida à intervenção do poder político (em linguagem moderna, o ponto a partir do qual uma lei é inconstitucional).

O Vítor pôs o dedo na ferida, como é habitual... meu caro, grande parte das 'pedras da funda' não dependem de nenhuma acção 'política' no sentido que hoje se lhe dá (decisão 'do poder'). Não se impõe a frugalidade e a temperança por lei, muito menos qualquer ética aristocrática (chamemos-lhe assim). Não tenho nenhuma esperança, por outro lado, de que as multidões descubram, de repente, a virtude da virtude. De modo que penso que este estado de coisas continuará.

O nosso Agostinho da Silva não compraria produtos financeiros, não se endividaria junto da banca e não 'consumiria' gadgets ridículos. Mas é mais fácil tomá-lo como precursor de um 'império lusófono' igualzinho aos outros, ignorá-lo, ou em desespero fazê-lo passar por um tolo místico.

Klatuu: obviamente LB é 'apenas' um funcionario. O nosso primeiro-ministro (seja ele quem for) também. De resto, não há, já 'donos' do grande capital rodeados de 'executores': era verdade nos tempos de Alfredo da Silva e Champalimaud (para dar exemplos portugueses, e em empresas comparativamente minusculas). As multinacionais raramente têm propriamente 'donos', salvo em empresas recentes, que ainda pertencem ao fundador (Microsoft). Numa outra altura posso explicar porquê.

Por isso o poder dos 'funcionários' de topo é, na prática, ilimitado, desde que apresentem resultados aos accionistas: ou seja, lucros. São o Marquês de Pombal, e não o fiel vassalo do rei.

Até 1989, a Goldman Sachs pertencia a uma especie de 'clube' de umas centenas de banqueiros, usualmente antigos funcionarios, precisamente. Uma especie de cooperativa de senhores-da-guerra. Nesse ano, permitiu a entrada de novos accionistas. Nessa altura, sob anonimato claro, um dos directores disse o seguinte à revista "BusinessWeek": "We're going to let you in. Now shut up and sit back and we'll let you know how much you made."

Caro Nuno Ferrão, de acordo com a 'cidadania global'... que tem que ser gradual e, no essencial, inventada de raiz. Mas a questão é que nenhuma economia, hoje em dia, pode resistir a uma situação de 'nao-crescimento'. E esse é o drama fundamental.

Morgana, Ucanha resistirá, na pedra e no coração dos cavaleiros. Vénia...

Elfei disse...

Acho curioso, este pensamento de "retorno à simplicidade dos sistemas políticos das eras medievas", se note, sem o parlamentarismo.

Claro que isso foi um inferência pequeniníssima no tema abordado, mas não foram incansáveis as vezes que vi por aí reclamações constantes do Estado "menos vassalo das grandes entidades financeiras", verdade seja dita, se os estadistas fossem mais competentes que estes empresários talvez tivéssemos outras maneiras de efetuar "os nossos comércios" multinacionais sem deixar de ter algum nível de controle real sobre os fatores atinentes.(Sinto aqui nesta afirmação duas tendências, liberalismo cruel ou o anarquia pura e simples, não acredito em nenhuma delas, mas há eras deixe de acreditar no poder centralizado de um governo, acho que tanto melhor nos administramos quanto melhor nossa educação moral e ética nos permite, sim, porque educação formal é relativamente nula se o que nos interessa é ter o de comer, vestir no dia seguinte e nada lá muito profundo além disso certo?)

Mas aí me vem uma outra questão, os acionistas não tem nacionalidades, me fazendo lembrar de antigos "grupos secretos" tais quais os maçons, que reza a lenda decidiam o futuro do mundo, já que se tratavam de senhores inteligentíssimos e de correntes filosóficas "para lá de gregas" com um quê de "filosofia moderna" claro.

Nessa dança toda a mediocridade, o que invariavelmente inclui todas as burocracias estadistas, fica aparente, atuante num palco de madeira de quinta, enquanto os títeres às escondidas dão-nos a sensação de algum controle dos nossos rumos por "nós mesmos".

Aí que penso, minha inteligência é medíocre por não dançar nesta dança? Ou porque não nasci num berço abençoado por um pertencente a este grupo seletíssimo? Mais ainda, o quanto se fala de "inteligência" a respeito destes grandes "hombres" acho dispensável, se inteligentes realmente o fossem não teríamos fomes, guerras por mesquinharias, talvez sequer fronteiras...chamo de inteligência real tudo aquilo que atina à corrupção de conceitos e paradigmas antigos, de forma coerente, consisa e efetiva...não vejo nada disso nessas corporações, que só entendem uma linguagem, não falo do lucro, isso é menor, falo do poder mesmo, é uma onipotência enorme, mas tão falha e tacanha, quase cega, perde-se os detalhes. É como se fosse uma câmera fotográfica, olha-se o todo, mas o foco, este, só tem um (falo das antigas analógicas, as atuais são muito loucas e incompreensíveis à mim...ainda uso LOMO hashahsah).

Casimiro Ceivães disse...

Elfei:

"retorno brusco à simplicidade": é esta a definição científica de "colapso". Nos sistemas vivos, significa usualmente aquilo a que chamamos "morte".

De resto, acho perigosa essa tendência para pensar que a inteligência tem essa "bondade" intrínseca... perigosa porque enganadora. A inteligencia é a capacidade de adequar meios a fins, nada mais do que isso.