Angola cresce a olhos vistos, a nível económico. O arcebispo de Lubango reconhece esta evolução e elogia o aumento de serviços, mas lamenta a desigual distribuição da riqueza no seu país.
“O que nos preocupa é esta constatação de pobreza que nós vimos, enquanto vemos que há serviços que são oferecidos cada vez mais à comunidade, mas ao mesmo tempo o acesso a esses serviços, falo por exemplo na água, na luz, do pão, e até numa situação de crise, naturalmente os pobres ficam mais pobres, é essa a nossa preocupação. Muito dinheiro está na mão de pouca gente e muita gente vive dificuldades no seu dia-a-dia”, afirma D. Gabriel.
Para o novo presidente da Conferência Episcopal Angolana, um dos principais problemas continua a ser a corrupção. “Apesar de reconhecer alguns avanços, a corrupção, a vários níveis é uma realidade que não podemos deixar de denunciar como um mal, chamamos-lhe um cancro. Se não for debelado, não se pode falar de desenvolvimento.”
D. Gabriel refere ainda alguns pontos da constituição que gostaria de ver esclarecidos, pedindo que este assunto não seja manchado por questões partidárias. “Na constituição em si há pontos nos quais temos um interesse em particular. Preocupa-nos, por exemplo, a laicidade, gostaríamos de ver maior claridade nesse aspecto. Preocupa-nos questões como o exercício dos três poderes, sobretudo o judicial. A questão da terra, pertence ao Estado ou aos cidadãos? A constituição não deve ser partidarizado, porque é um assunto que diz respeito a todos, independentemente das cores políticas que possamos ter.”
Na ordem do dia continua a descriminação de que se diz alvo a Rádio Ecclesia, emissora da Igreja Angolana que frequentemente denuncia escândalos e abusos de poder por parte das autoridades, mas que tem visto o seu funcionamento limitado
“A desculpa é sempre a mesma, que a lei da imprensa não está regulamentada, mas lamentamos que a Radio Ecclesia seja sempre a ser relegada para último lugar. É uma das questões mais claras de que a liberdade de imprensa não passe de uma expressão, porque de facto isso não acontece. Não é uma questão prática, é uma questão política. Os equipamentos até estão nas dioceses. Este é um disco que vem já riscado de tanto uso. Se não se mudam as coisas é porque não há vontade política”, garante o arcebispo de Lubango.
Por fim, D. Gabriel Mbilingi aborda a crise humanitária que está a surgir na zona fronteiriça com os dois congos, de onde milhares de angolanos estão a ser expulsos. “Solidarizamo-nos com eles. Precisamos de perceber um bocado mais as razões profundas que levaram os governos a permitir aquilo que aconteceu, e que é lamentável, porque de facto criou uma crise humanitária. Nós olhamos sobretudo para este aspecto humanitário. O que fizemos, a nível da Igreja de Angola, foi a partir da comissão Justiça e Paz e da Cáritas, organizar as ajudas que a Igreja procurará, a partir das comunidades, ajudar os irmãos que vieram dos dois congos.”
Fonte: RR
1 comentário:
Que alguém se preocupe. Se é a Igreja, essa é também a sua função quando da pobreza se trata.
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