Assumiu, recentemente, a
presidência da PASC: Plataforma de Associações da Sociedade Civil. Quais são os
objectivos principais a desenvolver ao longo da próxima direcção?
Esta Direcção, a que presido em nome do MIL: Movimento Internacional Lusófono, terá três grandes prioridades: Coesão, Crescimento e Comunicação (os nossos três Cês). Quanto à Coesão, estamos a organizar cinco Grupos de Trabalho, de modo a promover uma maior interacção entre as várias Associações da PASC. Quanto ao Crescimento, conseguimos já agregar mais uma dúzia de novas Associações. Quanto à Comunicação, lançámos já um Boletim Informativo da PASC e temos apostado na valorização do nosso site (https://pasc.pt/), partilhando informação de todas as nossas Associações.
«Tudo que seja
promover a nossa história parece-nos positivo», ideia que teve a ocasião de
expressar numa recente comemoração histórica. Partindo desta ideia, podemos considerá-la como uma forma de olhar para a
História enquanto promotora de pontes entre o Passado, o Presente e o Futuro?
Considerando todas as experiências vividas ou relatadas? Ou, dizendo de outra
forma, sem «cancelamentos», como parece que tem sido a tendência actual, uma
espécie de tentativa revisionista da história?
Sim, somos assaz sensíveis a essa
dimensão da História – como escrevemos recentemente, a propósito do
bicentenário da independência do Brasil: “o que devemos dizer é que Portugal
criou o Brasil – no plano linguístico, cultural e civilizacional –,
naturalmente que com o contributo das comunidades indígenas (que, por si só,
não formavam um povo, tal a sua dispersão geográfica e dialectal) e de todas as
outras comunidades que, século após século, fizeram do Brasil o seu país (…).
Porque só assim – assumindo o passado –, há, tanto no plano pessoal como
colectivo, real futuro”.
Na
fundação do Movimento Internacional Lusófono (MIL), do qual é presidente,
encontramos uma figura central - Agostinho da Silva. Um exemplo de como se pode
fazer história positiva, renovando os laços numa comunidade de língua
portuguesa à escala global. Qual o
balanço que pode traçar do MIL e o seu papel no desenvolvimento de uma
cidadania de língua portuguesa global?
Quando fundámos o MIL, ainda na
esteira das Comemorações do centenário do nascimento de Agostinho da Silva,
houve um amigo brasileiro que disse que o MIL era a “criação da CPLP por baixo”
– ou seja, ao nível da Sociedade Civil. Cada vez mais, parece-nos ser esse o
caminho: quando a Sociedade Civil tiver peso suficiente para influenciar os
diversos Partidos e Governos no bom sentido, tudo o mais virá por arrasto… É
esse, em síntese, o caminho que temos trilhado, tendo consciência de que este é
um caminho longo. É um ciclo histórico que está por cumprir, o corolário maior
da nossa história comum.
Já
teve a oportunidade de escrever que «é no seio de uma mesma comunidade
linguístico-cultural que há real solidariedade, tanto a nível interno como
externo. É desde logo por isso que, não obstante toda a retórica
político-mediática, ninguém está realmente disposto a sacrificar-se pela
Ucrânia.». Esta ideia não podia estar
mais actual. Podemos ver, nesta perspectiva, a importância do factor «bloco
geopolínguístico» na re-organização geopolítica e geoestratégica do sistema
internacional actual?
Sim, foi precisamente essa a tese que desenvolvemos numa recente sessão da Academia Internacional da Cultura Portuguesa (da qual o MIL é Sócio Honorário) – para a qual fomos eleitos, por proposta do Professor Adriano Moreira: “os blocos linguísticos/ culturais resistem mais à erosão do tempo do que os blocos estritamente alicerçados em meras afinidades ideológicas”. Eis uma tese que, a nosso ver, é tão válida a nível interno como externo. Daí, uma vez mais, o potencial geopolítico do bloco lusófono, que temos procurando salientar na Revista que o MIL edita semestralmente (a NOVA ÁGUIA).
O dealbar do século
XXI conheceu novo ciclo económico muito complexo, recordando-nos outros ciclos
igualmente desafiadores da história recente da humanidade. O papel da dívida
soberana adquiriu um papel crucial e hoje verificamos como parecemos estar à
beira do fim de um ciclo - 2030. Numa
conjuntura económica que desafia a imaginação e a resiliência da condição
humana, que papel diferenciador (radical?) pode ter a PASC na promoção da discussão
dos principais problemas que enfrentamos em Portugal, no seio do mundo
lusófono, e no mundo?
A PASC tem ainda um grande
potencial a cumprir – a nível interno e externo, assumindo-se como um exemplo a
replicar em todos os restantes países lusófonos. Nos Congressos da Cidadania
Lusófona, que o MIL tem organizado há cerca de uma década, sempre com o
patrocínio institucional da PASC, temos assumido esse duplo propósito: defender
e difundir o conceito de cidadania lusófona (no nosso caso, perfeitamente complementar
com a cidadania europeia); e agregar as Associações da Sociedade Civil de todo
o espaço da Lusofonia, ampliando assim exponencialmente o horizonte da PASC.
Muitos politólogos
apontam para o aprofundamento da clivagem entre soberanistas e globalistas. E
apontam uma tendência para a emergência de uma nova realidade política
designando-a, por vezes, como um sistema neo-feudal tecno-eugénico apoiado no
«stakeholder capitalismo». Neste novo quadro político normal, é apontado uma
nova tendência – a tentativa de «recalibrar a liberdade de expressão», um
eufemismo inteligente quando se fala de liberdade de expressão. Aliás, são
disso exemplos as tentativas de controlo de opinião através de agências de
«fast checking» que os mass media e as redes sociais têm desenvolvido nos
últimos dois anos. Se assim for, qual
será a oportunidade da PASC como uma «stakeholder» na sociedade portuguesa?
A PASC tem que entretanto “ganhar músculo”, ou seja, crescer, no plano quantitativo e qualitativo, para fazer jus ao nome que tem – Plataforma de Associações da Sociedade Civil –, de modo a que, em diálogo com todos os partidos e órgãos de soberania, seja reconhecida como a grande Casa da Cidadania entre nós. Há ainda, em Portugal, uma grande desconfiança do Estado em relação à Sociedade Civil, o que é um absurdo – dado que, quanto mais forte for a Sociedade Civil, mais forte será o próprio país. A PASC é, na nossa visão, um instrumento maior para o fortalecimento da nossa Sociedade Civil.
1 comentário:
Bom dia,
grata pelo Vosso texto. Continuação de Felicidades.
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