Há cerca de três anos,
manifestámos as nossas dúvidas sobre se a moda do derrube de estátuas, então
emergente nos Estados Unidos da América, acabaria por chegar até nós – como
então escrevemos: “Os Talibans do Politicamente Correcto (TPC) lá conseguiram
derrubar mais umas estátuas nos Estados Unidos da América (derrubar estátuas é,
como se sabe, uma especialidade Taliban), mas não cremos que esse seja um (mau)
exemplo que se venha a seguir na Europa, apesar do crescendo dos TPC também
entre nós. É que os EUA são ainda, comparativamente, uma nação adolescente,
mais permeável, por isso, a atitudes extremistas.” (“Bora lá derrubar mais umas
estátuas?”, PÚBLICO, 02.09.2017).
Hoje, temos que reconhecer que fomos
demasiado optimistas. A moda/ maré do derrube de estátuas está a atingir, em
força, toda a Europa, inclusivamente Portugal – e, por tabela, o mundo
lusófono. Muito recentemente, recebemos o texto de uma Petição que insta as
Autoridades de Cabo Verde a removerem do espaço público as estátuas de Diogo
Gomes, Alexandre Albuquerque, Serpa Pinto, Sá da Bandeira e Diogo Afonso,
falando de uma alegada “invasão” de Cabo Verde em 1445 – quando, nesses tempos,
as ilhas de Cabo Verde estavam por inteiro desabitadas (mas já se sabe que,
para os TPC, isso é irrelevante).
Por cá, já se tentou derrubar a
estátua do Padre António Vieira e é de esperar que em breve a moda/ maré
alastre, até porque há muito por onde escolher: Afonso de Albuquerque, D.
Henrique, Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama, o próprio Camões… Sendo que o
caso da estátua do Padre António Veira (em Lisboa) já era particularmente
sintomático. Bem a propósito: nestes últimos anos, estivemos envolvidos no
projecto de instalação de uma estátua do Padre António Vieira em Cabo Verde (por
iniciativa de Nuno Rebocho, entretanto falecido), que mereceu a concordância
expressa das Autoridades cabo-verdianas (premissa, obviamente, fundamental), projecto
que só não avançou (ainda) por meras questões financeiras. Neste contexto, cabe
perguntar se alguma vez avançará.
Em contra-corrente, lançamos pois
aqui o repto para que algum mecenas sem medo dos TPC (ainda existem?) possa
financiar a concretização desse projecto de estátua do
Padre António Vieira, a ser instalada na Cidade Velha (na Ribeira Grande de
Santiago), que perpetuará a sua passagem
por Cabo Verde e, em particular, a sua intervenção na Igreja de Nossa Senhora
do Rosário, na então chamada Ribeira Grande de Santa
Maria, a 22 de Dezembro de 1652, onde foi muito bem recebido – o
próprio Padre António Vieira se refere à “simpatia com que foi acolhido por toda a
cidade” – e onde teve a oportunidade de proclamar que, na sua visão do mundo e
da humanidade, “não há diferença de
nobreza, nem diferença de cor”. Nestes novos “tempos de trevas”, não nos ocorre
mensagem mais luminosa.
Renato Epifânio
Presidente
do MIL: Movimento Internacional Lusófono
2 comentários:
Caro Amigo, Renato Epifânio,
Muito oportuna a sua reflexão. O problema está começando a se incendiar, também por aqui, no Brasil, embora ainda um pouco incipiente. Mesmo sem reais motivos; sem reais razões. Ainda espero que não prospere esta lastimável sanha!
Entretanto, os modernos Talebans não precisam de reais motivos. Quando não os encontram, inventam-nos; fabricam-nos. Como disse alguém, estamos chegando à hora em que pretendem instituir o poder das trevas, na nossa civilização e por tudo abaixo...
Está na hora de a humanidade acordar, e zelar por seus valores fundamentais, que garantem a liberdade, a esperança e o bem estar a todos.
O fato é que,as pessoas Monumentais de nossa cultura merecem todo o respeito, pelos méritos que ninguém poderá lhes tirar, jamais. Temos uma plêiade imensa de grandes heróis que "por suas obras valorosas, da lei da morte, há muito se libertaram", como bem gravou para a posteridade, o nosso imortal Camões, em sua obra monumental.
José Jorge Peralta
Ando a ficar tão farta de ver ações de alarves. :/
Mas há por aí umas fábricas de alarves com grande produção...
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