*É um Lusófono com L grande? Então adira ao MIL: vamos criar a Comunidade Lusófona!*

MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
SEDE: Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa)
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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Desde 2008"a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

terça-feira, 19 de maio de 2020

A cobertura noticiosa da covid-19 (continuação)


No devido tempo, far-se-ão decerto muitas análises da cobertura noticiosa (nomeadamente, televisiva) destes tempos de pandemia. Pela nossa parte, partimos da seguinte percepção: se, num primeiro momento, essa cobertura (em particular, a televisiva) foi fundamental para promover a quarentena geral da população, quando houver ordem das autoridades para terminar a quarentena, essa mesma cobertura será um dos principais obstáculos a superar. Isso parece-me especialmente evidente no caso das televisões – o que talvez se explique pelo nível de audiências só possível por essa mesma quarentena…
Falamos aqui, claro está, sobretudo dos noticiários. Sendo que, aí, a cobertura internacional é tão significativa quanto a nacional. Quando cobrem o que se está a passar noutros países, o subtexto é (quase) sempre o mesmo: os países que não estão a cumprir uma quarentena tão rígida quanto a nossa estão errados e em breve verificarão isso. Isto mesmo quando os dados não permitem, de todo, retirar essa conclusão. Não importa. A lógica televisiva é muitas vezes essa: primeiro conclui-se, depois logo se arranjam os “argumentos”.
Nesse contexto geral, o recente incidente suscitado por uma peça jornalística da TVI nem sequer é particularmente significativo. Ainda que aí o preconceito verbalizado tenha sido outro: em síntese, a população do norte de Portugal estaria a ser mais atingida pela Covid-19 porque, entre outras razões, era menos instruída. Por mero acaso, assisti em tempo real à referida peça e lembro-me de ter dito para mim mesmo: “mais uma palermice”. Mas, dado esse contexto geral, não lhe dei particular importância. Até porque o subtexto dessa alegação é relativamente comum. O que não é tão comum é ser assim tão claramente expresso, para mais em relação a uma parte da população portuguesa.
Já nas coberturas internacionais, é muito frequente esse subtexto/ preconceito vir mais à tona: as pessoas mais conservadoras/ mais religiosas/ mais de direita (a ordem aqui é relativamente arbitrária) são, por definição, menos instruídas. Ora, esse subtexto/ preconceito continua a aplicar-se, “na perfeição”, ao norte do país. E não é sequer preciso recuar ao pós-25 de Abril, que por pouco não terminou numa guerra civil que, precisamente, tinha uma linha geográfica de fronteira: entre um sul proclamadamente mais “progressista” e um norte mais conservador/ mais religioso/ mais de direita. O que na peça jornalística da TVI se verbalizou foi, assim, apenas isso: um atavismo com (pelo menos) quase meio século mas que persiste.
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Como era assaz previsível, o clima geral de extrema emotividade que se tem criado em torno da pandemia afectou (ou melhor, infectou), em muito, a cobertura noticiosa que se fez, este ano, das comemorações da Revolução de 25 de Abril de 1974. Antes de mais, dever-se-ia ter recordado que, por razões diversas, essas comemorações não passaram pela Assembleia da República em 1983 (por ser dia de Eleições), em 1993 (por causa, ironia das ironias, de um boicote jornalístico) e em 2011 (por entretanto a Assembleia da República ter sido dissolvida). Ao invés, insistiu-se num falso precedente, como se fosse de facto escandaloso que, “pela primeira vez”, a Assembleia da República não comemorasse o 25 de Abril.  
O corolário de todo esse clima foi a forma enviesada (passe o eufemismo) como os media (em particular, uma vez mais, as televisões) cobriram o eco público do repto feito para que, no próprio dia, todas as pessoas confinadas em sua casa fossem à janela para assinalar a data. Foi hilariante verificar todos os “ângulos fechados” que se engendraram para procurar esconder que esse repto teve uma repercussão muito pouco significativa. Assim, em muitas das ruas em que só num prédio havia uma manifestação, só se filmou (para se escamotear o fiasco) esse prédio, ou, mais exactamente, só o andar em que havia uma manifestação…
Admitimos que esse enviesamento (passe, de novo, o eufemismo) tenha decorrido apenas de um exacerbado afã de “pedagogia democrática”, de que tanto se tem falado nestes tempos. De facto, depois de se ter criado a suspeita pública de que quem não concordava com as comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República só poderia ser “fascista”, a filmagem das muitas ruas silenciosas poderia levar à conclusão (não menos enviesada) de que a grande maioria da população se tinha tornado “fascista” – o que, obviamente, não corresponde de todo à verdade. Temos, ao invés, a convicção plena de que a grande maioria da população concorda com o nosso regime democrático pluripartidário, por mais que, por razões diversas, se sinta (muito) insatisfeita com a nossa classe política.
Assim, toda esta “pedagogia democrática” foi, pois, manifestamente desproporcionada. Há, de resto, a esse respeito, um equívoco que persiste: mesmo aqueles que têm uma visão mais positiva do Estado Novo não são necessariamente contra o nosso regime democrático pluripartidário; do mesmo modo, todos aqueles que, em geral, fazem um balanço favorável dos tempos da Monarquia não são necessariamente anti-republicanos. Este paralelo é aqui, aliás, particularmente pertinente: na nossa época, já quase ninguém comemora a Revolução de 5 de Outubro de 1910; todavia, daqui não se pode concluir que a grande maioria da população não seja republicana. Pela nossa parte, temos a plena convicção de que, se o nosso regime fosse referendado, só uma muito pequena minoria optaria pelo regime monárquico.
Dispensava-se pois, por isso, toda essa “pedagogia” (leia-se: histeria) “democrática” (alegadamente “anti-fascista”). Já vão longe os tempos do PREC (Processo Revolucionário em Curso) e não é por ter voltado a “Telescola” que os media devem tratar os portugueses como crianças. Como gosta (e bem) de lembrar o nosso actual Presidente da República, o povo português não nasceu em 1974 (nem, escusado seria dizê-lo, em 1926 ou em 1910) – é, muito longe disso, um povo com quase nove séculos de história. Não sabemos se somos, por isso, um “milagre”, como Marcelo Rebelo de Sousa sugeriu num discurso recente. Mas somos decerto, pelo menos, um povo adulto, um povo que, desde logo por essa longevidade, tem uma acrescida sageza histórica que o torna mais imune a essa visões simplistas/ maniqueístas que tão disseminadas foram, até à náusea, nestas últimas semanas. Já nos basta a disseminação do vírus…


Renato Epifânio
Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono

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