Este ano começou com a tomada
de posse do novo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Para além de todas as
polémicas que decorrem do seu perfil político, continuamos a notar uma omissão
maior no seu discurso – mesmo na sua tomada de posse, Jair Bolsonaro nada disse
sobre a ligação do Brasil com Portugal e os restantes países de língua
portuguesa.
Ao contrário, Jair Bolsonaro
parece insistir numa visão completamente auto-centrada, “nacionalista”, como se
o Brasil, pelo seu gigantismo, pudesse ser de facto auto-suficiente. Essa é de
resto uma tentação recorrente e que decorre desse gigantismo. Por razões
óbvias, são os países mais pequenos da CPLP: Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa que mais têm valorizado a nossa Comunidade Lusófona. O Brasil, volta
e meia, parece dar a entender que a dispensa.
Esperemos porém que esse
auto-centramento decorra sobretudo da magnitude da crise interna em que o
Brasil tem vivido e que, em breve, o Brasil reafirme a sua aposta na sua
ligação com Portugal e os restantes países de língua portuguesa. Temos fundada esperança
nisso, até porque sabemos que algumas pessoas da sua equipa governativa têm
igualmente esta nossa visão.
A esse respeito, não podemos
deixar de saudar o comportamento exemplar do Presidente de Portugal, Marcelo
Rebelo de Sousa. Contra algumas vozes que propunham que Portugal não se fizesse
representar na tomada de posse, como se Portugal tivesse que ficar agora refém
de algumas agendas partidárias, Marcelo Rebelo de Sousa representou
condignamente Portugal e teve o discurso que se impunha: não falando apenas da
ligação entre Portugal e o Brasil, como da importância particular do Brasil
para a CPLP. Daí também o significado da presença do Presidente de Cabo Verde,
Jorge Carlos Fonseca, Presidente da CPLP em exercício.
Escusado seria dizê-lo, por
ser (ou dever ser) por demais óbvio, mas como vivemos tempos em que cada vez
mais se põe em causa o óbvio, afirmamo-lo com toda a convicção: a ligação entre
Portugal e o Brasil é uma ligação estrutural entre países, mais do que isso,
entre povos, unidos por profundos laços de língua, de história e de cultura;
não é uma ligação que deva depender de figuras, por mais polémicas e/ou
carismáticas que sejam, nem, muito menos, de afinidades ideológicas, sempre
circunstanciais. Que o ano de 2019 comprove tudo isso, eis o nosso voto,
saudando todos os cidadãos lusófonos.
Renato Epifânio
Presidente
do MIL: Movimento Internacional Lusófono
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