Aqui, rendo-me, pois isto vai de encontro ao que penso, e que tentei exprimir, e que tem, desde dezembro de 2014, uma nova acuidade. Por isso, volto ao assunto.
Assim reafirmo o que disse, e que começa com uma constatação: o de que elogiar a Lusofonia é politicamente correto.
Fá-lo qualquer intelectual português de forma automática. Delira em dissertações sobre o Português em Timor Leste. Medita sobre a sobrevivência de vocábulos e apelidos portugueses na Malásia (Malaca). Estremece com a referência a goeses que ainda sabem algo da língua de Camões. Ainda se deleitará com placas toponímicas com apelidos portugueses no Sri Lanka ( Ceilão )
Se tiver alguma coragem, referirá as afinidades entre o Português e o Galego. Se não falar duma língua única com dois dialetos, falará duma origem comum ou duma alma comum. Mas... aqui... nada de confusões políticas. A Galiza tem de ser tratada sem compromissos!
Poderá referir ruas de cidades dos Estados Unidos ou da Inglaterra onde se fala algum Português. Ou de vestígios de lusismos no Uruguay. Fica tão bem a um homem de cultura, consagrado, falar destas coisas!! Afinal, ele não é uma pessoas qualquer. É a elite moderna de Portugal, aberto, europeu, obediente a regras internacionais, algo crítica (talvez) em relação aos mercados desregulados que estão a destruir o mundo e até uma determinada ideia de Europa, mas... sem tocar em assuntos mais polémicos! Fica mal. Uma elite assim deve ser assética. Claro, gosta de receber prémios... ou de ler opiniões em que se diz que, se ainda os não recebeu, esse dia chegará!
Enchem-se páginas de fino recorte literário, como soe dizer-se, com dissertações sobre palavras soltas, almas, recordações lusitanas um pouco por toda a parte. Bonito, tudo isto. É História! É "chique"! Fica mesmo bem!! É uma cultura que "já deu quase tudo o que tinha a dar" (passe a vulgaridade), e que importa realçar. Afinal, ela até tem aspetos interessantes.
Mas, por favor, não se fale de Olivença. Muito menos da recuperação, por locais, de valores culturais e linguísticos (caso de 74 topónimos) portugueses para "aquelas bandas" (2011)! Desfaçatez suprema! Ao fim de duzentos anos, tal tipo de eventos assusta! Como é possível ressurgir uma cultura que foi duzentos anos reprimida? E logo... cultura portuguesa e alentejana? Um cultura que se diz que não tem valor, ou vigor (passe a rima involuntária), ou futuro! Que heresia!
Há ainda pior! Entre dezembro de 2014 e julho de 2015, mais de 200 oliventinos pediram e adquiriram a nacionalidade portuguesa. E há ainda pedidos pendentes, e novos pedidos, diários, a serem feitos!
Assustador! Ainda se se tratasse de um excêntrico que quisesse ser português lá para os Estados Unidos ou para China... Duzentos em Olivença, isso não cabe na cabeça de ninguém! E o número ameaça aumentar! E insistem em falar em Português! Além dos nomes das ruas, querem usar a língua coloquialmente! Horror supremo! Uma meia dúzia de palavras em Ormuz, ou nas Ilhas Hawai, ou entre holandeses descendentes de portugueses, fica bem, é uma curiosidade. Em Olivença, além de toda uma língua por inteiro, até se fala de pertença cultural... sempre viva... com força para renascer... com tanta força que se pede a nacionalidade...considerada um Direito! Isto não pode ser a sério! Ou é?
As elites não gostam de surpresas destas. Calam. Silenciam. Para que ninguém saiba.
Elites, isto? Não, não são. Pensam que são.
Carlos Eduardo da Cruz Luna
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