Do seu ponto de vista, a dobragem
audiovisual é uma atividade artística ou é um trabalho técnico?
Não
tenho, por princípio, uma posição favorável sobre as dobragens – excepto para
filmes infantis. Todavia, quando são bem feitas, decerto que têm uma dimensão
artística.
A
dobragem protege/promove a língua portuguesa?
Não
necessariamente. A legendagem, para quem tenha poucos hábitos de leitura, pode
ser ainda mais útil para proteger/promover a língua portuguesa. Admito, porém,
que, para alguns países lusófonos, em que o domínio da língua não é ainda muito
generalizado, a dobragem seja um factor objectivamente positivo.
Pensa que a dobragem de um filme
estrangeiro para língua portuguesa desqualifica ou desvaloriza esse mesmo
filme?
Sem
dúvida. Nalguns casos, pode ser mesmo um atentado à obra. Fala a minha costela
cinéfila…
Existe hoje um público que cresceu com as
dobragens na televisão e no cinema (no caso dos desenhos animados). Faz sentido
acompanhar este crescimento dobrando os filmes e séries estrangeiras para
adultos?
Não
vejo porquê. O conhecimento de outras línguas é igualmente fundamental para o
processo de crescimento.
Hoje os canais por cabo que passam
documentários estão a voltar à legendagem (ex. Canal História, National Geographic Magazine, Discovery, etc).
Pensa que faria sentido o governo português regulamentar no sentido de tornar
obrigatório a dobragem para todos os canais de televisão?
Não.
Considero inclusive que essa não generalização das dobragens é uma marca cosmopolita
da cultura lusófona, que valorizo positivamente.
Nalguns países, a dobragem é obrigatória na
televisão e facultativa nos cinemas. Considera isto uma boa solução?
Não.
Já vi televisão noutros países e lembro-me de ter ficado muito mal
impressionado com algumas dobragens. Sobretudo quando se conhecem os originais…
Algumas opiniões avançam com o argumento de
que a dobragem cinematográfica não é viável em Portugal, devido ao seu reduzido
mercado. Qual a sua opinião?
Como
não sou por princípio favorável às dobragens, não vou contra-argumentar. Por
princípio, porém, enquanto Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono,
tendo sempre a pensar numa escala lusófona – nunca estritamente nacional.
Um videojogo em Portugal, atualmente, vem
com a possibilidade de ter as vozes em inglês, francês, espanhol, e outras
línguas, mas não em português. Não pensa que se devia lutar para que estes
suportes audiovisuais fossem obrigados a ter versões dobradas em português?
Esta
é outra das excepções que aceito. Nestes casos, sim – para que a língua
portuguesa não saia, comparativamente, menorizada face a outras.
*
Questionário da autoria de Pedro Halpern Veiga Pereira, in “Uma hipótese de
democratização cultural: a dobragem audiovisual”, Dissertação de Mestrado em
Gestão e Estudos da Cultura, Lisboa, ISCTE, 2014, pp. LXII-LXIV.
Sem comentários:
Enviar um comentário