É sempre o mais fácil: culpar os
outros, em vez de apurar as nossas próprias responsabilidades. Neste grave
crise estrutural que Portugal atravessa, uma das maiores da nossa história, também
isso tem acontecido: tendemos a culpar tudo e todos, excepto nós próprios.
É certo que as responsabilidades
desta crise não são igualmente partilháveis – longe disso: há pessoas que são (muito)
mais e (muito) menos responsáveis. Mas, em última instância, todos temos alguma
dose de responsabilidade. De nada nos vale, pois, por exemplo, como tem sido
comum, culpar a “classe política”: fomos nós que a elegemos. E de pouco vale
dizer que não havia alternativa: poderíamos sempre ter optado, em última
instância, pelo voto em branco.
Não há liberdade que dure sem
responsabilidade. Finalmente, parece que estamos a perceber isso. E daí a
vontade expressa de muita gente em ter uma atitude mais responsável na condução
deste país, na definição do nosso futuro colectivo. Se chegámos onde chegámos,
foi também pela indiferença, pela omissão, de muitos portugueses. De muitos de
nós.
É certo que muitas vezes essa
vontade é, em grande medida, inconsequente: expressa-se em manifestações que se
afirmam quase que apenas pela negativa. É por isso que, em geral, no dia
seguinte, tudo continua mais ou menos, senão inteiramente, na mesma. Mas é já
um bom sintoma: essa vontade, esse empenhamento. Resta agora que cada um de nós
encontre as plataformas cívicas e políticas que melhor se adequam às suas
expectativas. E que, sobretudo, proponham reais alternativas de futuro. Não
basta dizer “não”.
O futuro de Portugal passará
pois, necessariamente, por “mais Democracia” – ou seja, por um muito maior empenhamento
cívico e político de todos nós. Isso levará, naturalmente, à regeneração dos
partidos existentes, à criação de novos partidos e, idealmente, à possibilidade
de candidaturas independentes a diversos órgãos – desde logo, à Assembleia da
República. Não poderá ficar tudo como dantes. Não temos mais desculpa para
continuarmos a culpar a classe política que nós próprios elegemos. Acabou-se o
tempo das desculpas.
“Mais Democracia”, porém, sendo
fundamental, não basta. Como diriam, os latinos, é preciso uma solução “ad intra”
e “ad extra”, ou seja, “para dentro” e “para fora”. Para dentro, esse
parece-nos ser o grande desígnio: “mais Democracia”. Para fora, porém, há um
outro, não menos importante: “mais Lusofonia”. Só assim corrigiremos o maio
erro estratégico que cometemos nestas últimas décadas – aquele que, de resto,
melhor explica a situação internacional a que chegámos: termos desprezado o
espaço lusófono, apostando tudo na integração europeia. Entendamo-nos: o nosso
erro não foi propriamente termos aderido à então Comunidade Económica Europeia.
Foi, antes, termo-lo feito numa posição de fraqueza.
Se, com efeito, Portugal sempre
tivesse promovido os laços com os restantes países e regiões do espaço
lusófono, teria hoje, mesmo no espaço da moeda única europeia, uma posição bem mais
fortalecida. Agora, porventura, já será tarde. A História não volta atrás. Seja
como for, Portugal terá sempre futuro e terá tanto mais futuro quanto mais assumir
esse desígnio estratégico: “mais Lusofonia”. Quer mantenhamos a nossa adesão à
moeda única europeia, quer venhamos a ter que sair – cenário cada vez mais
plausível, dado o bloqueio económico a que chegámos –, “mais Lusofonia”
significará sempre, para Portugal, mais Futuro.
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