Infelizmente, é algo que
acontece cada vez mais. Na maior parte dos casos, os Colóquios Universitários –
falamos, sobretudo, na área da Filosofia, que conhecemos melhor – pouco
acrescentam ao “estado da arte”. Os oradores vão apenas ouvir-se e reiterar as
suas ideias feitas. O debate, quando existe, serve apenas para cristalizar
ainda mais essas ideias feitas, tudo isto perante um público que, Colóquio após
Colóquio, é cada vez menor (e nós ainda nos lembramos de Colóquios que encheram
o “velho” Anfiteatro I da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa…).
O Colóquio que se realizou em
Janeiro deste ano, no Porto, sobre “A Obra e o Pensamento de António Braz
Teixeira”, e que entretanto se estendeu à cidade de Mariana, no Brasil, foi, a
esse respeito, bem diferente, sobretudo porque contou com a presença do próprio
homenageado. Sendo que, apesar de ter sido um Colóquio de Homenagem –
inclusivamente, com testemunhos (e lembramo-nos bem da memorável intervenção do
cineasta António-Pedro Vasconcelos) –, este foi um Colóquio em que se debateu
verdadeiramente – e em que, por isso, se progrediu realmente no “estado da
arte”.
O exemplo máximo disso foi o
debate em torno do conceito de “razão atlântica”, um dos conceitos mais
emblemáticos da obra de António Braz Teixeira e que, naturalmente, foi tema de
diversas comunicações no Colóquio. Pois bem: logo no primeiro dia, o próprio
António Braz Teixeira teve a oportunidade de esclarecer que esse era um
conceito, em grande medida, “ultrapassado”; e que, hoje, mais do que de uma
“razão atlântica” (circunscrita ao espaço luso-brasileiro ou, quanto muito,
luso-galaico-brasileiro), se deve falar, cada vez mais, de uma “razão
lusófona”, senão mesmo de uma “filosofia lusófona”, porque aberta a todo o
pensamento expresso em língua portuguesa, por muito que esse pensamento mais
filosófico ainda não tenha realmente desabrochado em todo o espaço lusófono.
No final do primeiro dia de
trabalhos, cruzando-me com um participante do Colóquio que, no dia seguinte,
iria igualmente falar da “razão atlântica”, lancei-lhe a provocação: “Estás com
azar. Vais ter que reescrever a tua comunicação esta noite…”. Não a reescreveu.
Mas sugeriu, em nota, que «para além da existência de uma “filosofia atlântica”,
se equacione mesmo a possibilidade de [se] afirmar a existência de uma
“filosofia lusófona”, implantada em determinados espaços geoculturais do
Atlântico e do Índico». Não são de facto muitos os Colóquios em que algo de
similar aconteça. Neste aconteceu. Foi por isso um Colóquio realmente
progressivo.
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