Lançado em meados do corrente mês, o Novo Atlas da Língua
Portuguesa , co-organizado
por Luís Antero Reto, Fernando Luís Machado e José Paulo Esperança,
antecipa que, no final do século XXI, o número de falantes de língua portuguesa
estará próximo dos 500 milhões, sendo que o maior crescimento ocorrerá,
previsivelmente, em África, sobretudo em Angola e Moçambique, que, em conjunto,
suplantarão o Brasil no número de falantes em mais de 50 milhões.
Sendo já hoje a quarta língua mais falada a nível global (depois do
mandarim, do castelhano e do inglês), estes números impressionam mas não nos
devem satisfazer por inteiro. Mais do que os aspectos quantitativos, importam
os aspectos qualitativos. Se, quantitativamente, a Lusofonia continua a crescer
de forma exponencial, qualitativamente o mesmo não se pode dizer.
Falta, desde logo, que esse imenso amontoado de pessoas não seja apenas
isso mas uma imensa comunidade. Porque só assim, afirmando-se como uma comunidade,
a Lusofonia terá real força a nível global, geopolítico. Enquanto isso não
acontecer, a Lusofonia continuará a ser um gigante amorfo, em que cada parte
(leia-se: cada país) puxa para o seu lado, sem a menor coordenação, sem o menor
desígnio. Por enquanto, é (quase) apenas isso que a Lusofonia é: um gigante
amorfo e paralisado, sem desígnio ou vontade para trilhar o seu caminho a nível
global, geopolítico.
Chegados aqui, é suposto criticarmos os diversos Governos da CPLP:
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa por essa paralisia. Também o
fazemos, decerto. Mas procuramos ir muito mais além: mais do que aos diversos
Governos da CPLP, apontamos o dedo aos diversos povos lusófonos, à maior parte
dos cidadãos lusófonos. Quantos deles, desde logo, se afirmam enquanto tal? Os
portugueses, por exemplo, facilmente se afirmam como cidadãos europeus e até
como cidadãos do mundo – nada contra. Mas raramente se afirmam – essa é a minha
experiência – como cidadãos lusófonos. E isso, por si só, é significativo do que
falta.
Importa por isso primeiro mobilizar as pessoas, os povos. Não por acaso
falou Agostinho da Silva, ainda nos anos cinquenta, de uma “Confederação dos
povos de língua portuguesa” (in O
Estado de São Paulo, 27 de Outubro de 1957). Dos povos, sublinhe-se, não
dos países. Têm que ser os povos a abrir o caminho. Só depois os países
(através dos seus Governos) sairão da sua modorra, por arrastamento. Só enfim o
tal gigante amorfo sairá da sua paralisia. E, então sim, a Lusofonia deixará de
ser esse imenso amontoado de pessoas em crescimento exponencial para passar a
ser, o que é bem mais importante, uma
comunidade com real força a nível global, geopolítico. Para tal, não precisamos
sequer de chegar aos 500 milhões de falantes. Poderemos bem ser menos, desde
que passemos a ser muito mais.
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