No final de
Setembro do corrente ano, no Palácio da Independência, sede da Sociedade
Histórica da Independência de Portugal, o Professor Armando Marques Guedes
(A.M.G.) proferiu uma muito interessante conferência (e este não é apenas um
“elogio da praxe”), intitulada “A Lusofonia e as transformações securitárias da
bacia do Atlântico” (consultável em www.academia.edu). Sendo conhecido o seu
saber na área da geopolítica, A.M.G. salientou a renovada importância do Atlântico
Sul e do quanto isso é (leia-se: deveria ser) relevante para o pensamento
estratégico da Lusofonia, dado que nessa área vital os países de língua
portuguesa têm uma natural proeminência, a começar pelo Brasil, na América Latina,
e por Angola, em África. Integrando inclusive Moçambique nessa área estratégica do
Atlântico Sul – pela sua ligação aos restantes PALOPs e à África do Sul –,
A.M.G. salientou que apenas dois países lusófonos estão geograficamente fora
desta área: Timor-Leste e Portugal. Daí, em suma, toda a importância desta área
para a Lusofonia: ela é, dir-se-ia, o espaço geopolítico lusófono por
excelência. O problema, como bem denunciou A.M.G., é que os países lusófonos
não agem ainda concertadamente, ou seja, não formam ainda um eixo geopolítico.
A esse respeito, A.M.G. deu o seguinte exemplo: numa recente votação realizada
na ONU sobre a questão da Crimeia, Portugal e Cabo Verde votaram contra as
pretensões da Rússia, Timor-Leste e a Guiné-Bissau não compareceram na votação,
tendo os restantes países lusófonos optado pela abstenção.
O exemplo não é, a
nosso ver, o melhor – como na altura defendemos, por razões históricas,
demográficas e linguísticas, a Crimeia é naturalmente território russo, apesar
de todas as questões de direito que se possam, a este respeito, aduzir. A
denúncia é, porém, inteiramente pertinente: os países lusófonos não agem ainda
concertadamente, ou seja, não formam ainda um eixo geopolítico. Quando questões
deste cariz se levantam, Portugal tem seguido acriticamente, nestas últimas décadas,
as potências europeias, o Brasil tende a acompanhar os seus vizinhos
sul-americanos e mesmo os PALOPs raramente agem de forma concertada – e aqui
não serve de consolo o facto de, por exemplo, os países de língua castelhana se
encontrarem ainda mais fragmentados, conforme foi igualmente demonstrado. Impunha-se,
por isso, um esforço suplementar para que os países lusófonos pudessem, na ONU
e noutros fóruns internacionais, votar no mesmo sentido, pelo menos nas questões
mais relevantes. Mesmo tendo consciência de que esse é um horizonte ainda longínquo.
Alguns – para não dizer muitos, para não dizer todos – países lusófonos não se
assumem ainda como tal, com todas as consequências que essa assunção deveria
implicar, inclusive no plano geopolítico. Sendo que também aí Portugal tem
pouca – para não dizer nenhuma – autoridade para apontar o dedo a quem quer que
seja. Se é verdade que há países que ainda parecem viver no bloco soviético –
para onde foram empurrados pela nossa “descolonização exemplar”, importa não
esquecê-lo –, Portugal, reiteramo-lo, não tem apostado realmente na Lusofonia
enquanto eixo geopolítico. A citação favorita da nossa classe política – “Minha
pátria é a língua portuguesa” – tem sido ainda apenas uma proclamação inteiramente
retórica e inconsequente. Também nesta frente, há muito caminho a trilhar.
1 comentário:
Historicamente, no Mundo, a origem da Lusofonia é perfeitamente conhecida e por isso somos temidos . Hão-de tentar de tudo para nos separarem.
Eu se fosse habitante da Crimeia também queria ser Russo, assim, tal como os Crimeios fizeram, por votação.A ideologia comunista é ridícula.
Há já alguns decénios que andam aí uns indivíduos que fazem e desfazem países com uma facilidade que eu nunca entendi e que, comprovadamente têm sido fonte de grande opressão e sofrimento para os povos dessas regiões. Admirável é o contorno que os Russos fizeram a esse "Poder Instalado" que não tem rosto nem é oficialmente identificável e que interfere na identidade dos povos conforme lhe apetece.Sem um único tiro. O que os Russos fizeram é impossível.Mas que admirável é o Povo Russo.
Anda para aí tanto regime político que não tem coragem de perguntar ao povo que governa se está satisfeito com a "forma política" que vigora no país.
Nós queremos daquela democracia a sério que só recorre ao povo para o que é fundamental.Quanto ao resto, os governantes que o façam que é para isso que os colocamos nos lugares que ocupam. Paulo Almeida.
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