Foi particularmente penoso
acompanhar as diversas eleições que se realizaram nos últimos meses através dos
nossos “media”. No Brasil, a certa altura, até chegou a parecer que a grande
questão em debate era o casamento gay e as alegadas contradições da candidata
Marina Silva em relação a este assunto menor (quando as suas interessantes
declarações a favor da CPLP foram por cá inteiramente ignoradas). Já se sabia
que a agenda do Bloco de Esquerda dominava grande parte dos nossos “media”
nacionais. Agora, quando o Bloco acentua a sua inexorável desagregação interna,
essa agenda parece estender-se à cobertura das eleições internacionais. Houve
já um Império (o Bizantino) que se deixou cair enquanto se distraia a discutir
o sexo dos anjos. No Brasil, felizmente, esse parece ainda não ser o caso.
Na Escócia, a questão em
discussão era bem mais decisiva – nada menos do que a independência –, mas,
também aqui, o olhar dos nossos “media” foi bastante enviesado. Alinhou na
campanha de medo induzida por Londres e Bruxelas, como se, facto, a Escócia
pudesse mesmo ficar “fora da Europa”. Isto quando o argumento deveria ser
precisamente o inverso: uma Escócia fora do Reino Unido ficaria muito mais
dependente da União Europeia. Mantendo-se como está, isso dá-lhe uma muito maior
liberdade, tendo em conta o espaço anglófono que se estende por todo o mundo,
que o Reino Unido – ao contrário de Portugal, em relação ao espaço lusófono –
nunca desprezou. Se fosse escocês, esse seria o meu argumento maior para ter
votado não à independência.
Caso bem diferente – também
aqui ao contrário do olhar dos nossos “media” – é o da Catalunha. Aqui há uma
real singularidade linguística, histórica e cultural que, mais cedo ou mais
tarde, levará – estou cada vez mais certo disso – à sua independência política
(se não formal, pelo menos substantiva, como em grande medida, conforme se
sabe, já acontece). A desastrosa gestão do governo central espanhol tem dado,
importa reconhecê-lo, uma grande ajuda para esse desiderato, refugiando-se em
argumentos jurídicos que, por mais que formalmente legítimos, são por inteiro
contraproducentes nos nossos tempos. Mais cedo ou mais tarde, haverá referendo
e a única resposta inteligente daqueles que querem manter a unidade do Estado
Espanhol seria fazer um referendo à escala nacional. Assim, pelo menos,
invertia-se o jogo e seriam os catalães independentistas a ficar na defensiva.
Fica o meu conselho – de borla e a contra-gosto – aos castelhanistas…
No que concerne a Portugal,
nada há já a discutir. Os nossos “media” já decidiram que António Costa será o
próximo Primeiro-Ministro, com ou sem a bengala do Partido Livre, para o qual
já estenderam igualmente a sua passadeira vermelha. Tudo isto, garantem-nos,
para conduzir uma política realmente alternativa ao do actual Governo, mas sem,
claro está, pôr em causa o que sobre-determina essa mesma política: a nossa
inserção na União Europeia e o cumulativo respeito por todos os seus Tratados
(desde logo, o Tratado Orçamental). Entretanto, longe do olhar dos nossos
“media”, há coisas que acontecem – por exemplo: o movimento +DP (Mais
Democracia Participativa) encetou um processo que poderá redundar na sua
integração no “Nós, Cidadãos”, assim reforçando este novo partido político que figurará
nos boletins de voto das próximas Eleições Legislativas. Nem tudo no Outono é
declinante.
Sem comentários:
Enviar um comentário