Chuang Tse
Somos filhos da porta estreita, da agulha por onde deve passar o camelo.
A Europa vive no declínio permanente, a todos os níveis da sua estrutura: econômico, institucional, social, cultural. A cultura Ocidental já deu ao mundo o que tinha que dar, agora vive dos sucessos do passado: o seu domínio a nível mundial ainda se deve a tardança que todo desloque hegemônico intrinsecamente contem, em épocas ou eras de transição.
Europa vive sua apatia. Ante a falta de poder decisivo como ator global, Europa tem que conformar-se com o espaço pequeno que lhe deixa o grande ator Americano, o Império Global.
Assim como o Euro não pode desafiar a Dólar, em grave crise, o dólar permanece como moeda de refugio internacional, com duvida e a baixa, mas ainda a salvo, enquanto o Euro deve, dia a dia enfraquecer-se para evitar concorrência com a moeda do Big brother.
O poder vital da Europa, baseado no racionalismo inaugurado por Descartes, já não pode ignorar que o mundo ao igual que universo, funciona baixo uma simples e complexa lei, onde tudo acontece ao mesmo tempo, dentro dum presente permanente, em continua mudança – onde passado e futuro – simpaticamente são o caminho que nos trouxe aqui e o caminho que de aqui nos vai levar ao que ainda não divisamos e acreditamos ousadamente feito pela nossa sapiência…
A cada instante das nossas vidas estamos a viver esse mesmo presente. A inteligência universal, o campo unificado, o universo como um todo… como quer que você goste em chamá-lo está a viver inúmeros, infinitos acontecimentos que se estão desenrolando a um mesmo tempo, sem que a visão central – encarregada de focar só uma parte ínfima da realidade – e sobre a que se formalizou o pensamento racional europeu, possa perceber todos os elementos que a um mesmo tempo estão a interagir, para criar isso que nós chamamos de realidade; algo imensamente espantoso, que não pode ser concebido por meio abstrações ou interpretações lineais. Mas desgraçadamente a linearidade é o alicerce principal do modo de construção interpretativa do mundo ocidental.
Mesmo as línguas européias, formadas a base de alfabetos, são indiscutivelmente lineais, seguindo a seqüência de uma cousa de cada vez, com o intuito de resumir a experiência aquela pequenina caixinha onde podamos incluir aquilo que estão à mão da nossa limitada compressão: logo ficamos felizes acreditando estarem no certo, na verdade única.
Igual acontece com os códigos sociais, e os códigos comunicativos que fazem que desde a mais tenra infância, sejamos persuadidos a aprender e aceitar regras e convenções que já estão sendo ultrapassadas pela experiência tanto cientifica, como pela simples evolução e mudança continua duma realidade, que só somos capazes de definir abstraindo dum todo indivisível, uma parte ínfima e convencional; convenientemente adaptada segundo as necessidades de cada poder, em cada momento dado, e que não é mais que uma cativa visão parcial duma realidade total, que nosso pensamento ocidental esta impossibilitado para compreender, pelo apego irracional a esse método lineal de raciocínio.
Precisamente seria muito mais necessário que aprendêramos a utilizar um pouco mais nossa visão periférica, que é capaz de captar a realidade como um todo, sem julgamentos, nem suposições, nem necessidades de comparações. Sem a angustia de procurar no saco da consciência o referente adequado para comparar, medir e decidir, dentro dum esquema previamente estabelecido pelos condicionantes inseridos – desde os primeiros anos da nossa formação ate hoje – a ação ou resposta adequada que a seguir deveremos realizar.
Europa exportou este modelo de pensamento e construção civilizacional ao resto do planeta, mas o problema é que agora esse modelo dificilmente está impossibilitado para funcionar, num novo esquema de desenvolvimento cientifico e tecnológico, que vai levar adiante (gostemos ou não) uma revolução a nível planetário, muito mais profunda e diversa, tanto nas interações como nas soluções que devem ser consideradas, que qualquer mudança do passado. Esta mudança radical vai exigir uma mudança profunda nas nossas conceições e maneiras de encarar a realidade, para uma visão muito mais aberta, não lineal, nem reduzida, dados os limites que os parâmetros atuais e modelos de compressão herdados do passado impõem.
Europa, pois precisa das achegas de outras culturas mais vigorosas, de outras sociedades mais dinâmicas – ainda que em processo de evolução e pelo tanto ainda muito embrionárias e contraditórias – de outras energias mais vitais para encarar os novos retos, para poder formular novas visões mais amplas.
Neste momento o materialismo dialético está francamente em queda livre, e ciência e espiritualidade estão a fundir-se num processo muito lento, que vem a ter seu sinônimo na crise sistêmica do modelo de domínio econômico internacional… ao qual infelizmente ainda se agarra uma velha e cansa casta político mercantil Europeia, e que não é mais que uma crise de modelo dominador que entra em falência, com as suas múltiplas crises subjacentes que começam a emergir, ao abeiro do afundamento desse centro que tomava as decisões a nível mundial. Assim as crises energéticas, ecológicas, culturais, éticas… não são mais que braços alongados e projeções gigantescas dessa falência anunciada pela tendência que a Europa vem arrastando desde já há muitos decênios…
No entanto todas as tentativas de analise e resolução desta realidade resultam precárias: nem batem a certo nem batem a errado… Talvez porque o mesmo conceito de certo e errado, de claro e escuro, de direita e esquerda esteja a ser posto em causa ante as novas evidencias de espaço e tempo, que durante as ultimas décadas se tem desenvolvido tanto a nível cientifico, filosófico como espiritual…
Europa, pois na sua apatia procura enfraquecer o modelo de Estado Providencia, entregando ao seu sector privado o controlo do sector publico, como médio para o capital livrar-se do seu fardo de dividas e crescer a conta dos povos, das populações… Demolindo a força do trabalho, empobrecendo as suas sociedades… e sonhando com um futuro prometedor, em que já ninguém confia. A apatia da Europa, a impossibilidade de mudar seu rumo, a leva contemplar a guerra social na Grécia, como uma tragédia mais do velho teatro helênico.
Neste contexto o Sul da Europa passara a depender do centro. O Estado Nação passará a ser um ator em decadência. E nós Galiza, teremos de lutar para abrir-nos a uma Europa sem Estados, na qual os direitos culturais e de identidade não sejam postos em causa no altar dos sacrifícios falsamente necessários.
A volta aos valores milenares, as fortes e flexíveis raízes, deve realizar-se com espírito aberto e renovador para encarar os novos desafios a nível global, que agora passam pela fase de regionalização, dentro duma tendência mais ampla de unidades mais complexas, que vão encaminhando-se para uma unificação futura, lenta mais imparável no nível do Orbe.
A Terra Mãe, a Deusa celta soberana, está como antigamente, lembrando-lhes aos seres humanos que é ela a dona da soberania, que nós só podemos exercê-la respeitando o velho contrato: se o soberano não exercer sua autoridade com retidão e justiça, a mesma Deusa Mãe se rebela e traz anos de más colheitas, fome e confrontos…
Os soberanos da Europa, os senhores que comandam o mundo, esqueceram este ditado, e a Deusa Terra, Geo, está pronta a castigá-los, a castigar-nos senão formos capazes de mudar o rumo…
O problema é que na velha Europa, já não resta margem de manobra, para respeitar os direitos da Terra, e conciliar ao mesmo tempo os interesses das classes populares, com as necessidades urgentes dos donos do dinheiro, que insistem e insistem em salvarem-se a eles próprios… Sem ser capazes de ver, que nesta mesma nau em que os pobres vamos remando, os donos da pirâmide não poderão evitar o afundamento, a não ser que marquem outro rumo, e encaminhem o leque por águas com menos turbulências…
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