Em 1942, três anos após o fim da Guerra Civil espanhola, os exiliados galegos em Buenos Aires começaram a celebrar o Dia da Galiza Mártir, para lembrar e honrar a todos os galeguistas assassinados. A data escolhida foi a do aniversário do assassínio de Alexandre Bóveda, um dos grandes impulsionadores do Estatuto de Autonomia que foi aprovado pelo povo galego pouco antes do início da guerra. Nunca se saberá ao certo quantos foram os mortos daquele verão de 1936. Mas sim sabemos que toda uma geração empenhada na libertação da Galiza, ao grito fascista de "Muera la inteligência", se perdeu. Alguns foram mortos, como o próprio Bóveda, Vítor Casas (diretor do jornal A Nossa Terra), Ângelo Casal (presidente da câmara de Compostela e diretor da editorial Nós), Jaime Quintanilha (presidente da câmara de Ferrol e diretor da editorial Lar), Roberto Blanco Torres (jornalista), Camilo Díaz Balinho (artista plástico)... Outros, artistas, escritores, políticos, viveram o resto dos seus dias no exílio: Castelão, Luís Seoane, Rafael Dieste, Lorenzo Varela, Antom Alonso Rios, Ramóm Suárez Picalho, Ernesto Guerra da Cal... Outros, os que ficaram e sobreviveram ao terror, foram represaliados e apartados dos seus trabalhos: Ramóm Outeiro Pedraio, Ricardo Carvalho Calero e uma extensa lista de professores, convertidos em verdadeiros símbolos da República.
Estas são as últimas palavras que Alexandre Bóveda pronunciou perante o tribunal que o condenou à morte:
"A minha pátria natural é a Galiza. Amo-a fervorosamente como pode amar um filho à sua mãe. Jamais a atraiçoaria embora me concedessem séculos para viver. Adoro-a até para além da minha morte. Se entender este tribunal que, por este amor entranhável, dever-me-á ser aplicada a pena de morte, recebê-la-ei como um sacrifício mais pela minha Terra. Fiz quanto pude pela Galiza e faria muito mais se pudera. Se não posso continuar trabalhando mais por ela, gostaria de falecer pela minha pátria. Sob a sua bandeira desejo ser enterrado. E este 'agarimo' -seja-me permitida a única palavra galega no idioma que falei sempre- que lhe tenho à terra sagrada na qual tive a sorte de nascer, não me obriga a sentir nenhum ódio à Espanha, à que, por direito, pertenço. Apenas combati os seus erros, e, às vezes, as suas crueldades políticas para com a minha Galiza idolatrada. Mais nada."
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