Em todo o caso, foi por si só positivo que Sócrates tivesse saído de cena. Nesse aspecto, a nossa democracia uma vez mais funcionou. Como defenderam os grandes teóricos desta, nomeadamente Karl Popper, a democracia não é tanto o regime que nos permite eleger os melhor – o que vai sendo cada vez mais evidente, em Portugal e no resto do mundo – como, sobretudo, aquele que nos permite livrarmo-nos, pacificamente – leia-se: sem golpes de Estado ou guerras civis – dos piores. O que não é coisa pouca. Ainda que muitas vezes não pareça suficiente.
Para fazer sair Sócrates, havia que eleger “o outro” – e, nestas eleições, “o outro” era claramente Pedro Passos Coelho. Nessa medida, não penso que Pedro Passos Coelho tenha tido grande mérito neste resultado – às vezes, chegou inclusivamente a parecer que não queria ganhar. O seu mérito, se o tiver, será agora que terá que o provar.
Quanto aos restantes “outros”, aconteceu aquilo que era também previsível – Paulo Portas subiu, mas não tanto como a certa altura fantasiou; Jerónimo de Sousa manteve-se (o eleitorado do PCP é sólido e imune a flutuações); Francisco Louçã, depois de ter batido há muito com a cabeça no tecto, desabou (ao contrário do PCP, o Bloco sempre foi um projecto político sem grande consistência interna, com um eleitorado, por isso mesmo, muito flutuante).
Quanto aos partidos sem assento parlamentar, mantiveram-se como estavam, o que também não surpreende. A desproporção de meios é tanta que só muito dificilmente um partido destes consegue vingar. Esse é, de resto, um dos maiores factores de bloqueio da nossa partidocracia: a dificuldade em lançar novos partidos. Espaço para estes, continua a haver: não falando na abstenção (mesmo descontando os eleitores-fantasma, mais de um terço do eleitorado), houve, nestas eleições, quase 150 000 votos em branco e mais de 75 000 votos nulos, ou seja, nesta eleições, houve bem mais de 200 000 pessoas que, querendo votar, não encontraram nenhuma alternativa credível nas quase duas dezenas de partidos que apareciam nos boletins de voto.
Ao longo destes meses, houve, de resto, muita gente a exortar o MIL: Movimento Internacional Lusófono a dar esse passo, garantindo o seu voto. O argumentário era sempre, mais ou menos, o seguinte: todos os partidos existentes continuam a apostar tudo na integração europeia, com os resultados cada vez mais evidentes; aqueles que põem isso em causa não apresentam nenhuma alternativa; o MIL poderia ser, também no plano partidário, o porta-voz de todos aqueles que, estrategicamente, defendem o reforço dos laços com os restantes países lusófonos de modo a contrabalançar a nossa cada vez maior menorização no seio da União Europeia.
De facto, faz falta um partido com essa visão estratégica para Portugal e não está fora de hipótese que o MIL, directa ou indirectamente, venha a promovê-lo. Mas isso, como tenho respondido, sem precipitações. Muito menos, dando passos em falso. O MIL é, cada vez mais, uma marca valiosa – e credível, pelo seu já rico historial e pela extrema coerência das suas propostas. Nada faremos que ponha isso em causa. Mas também não podemos dizer “nunca” a um projecto cuja necessidade se vai tornando cada vez mais evidente.
Desta vez, houve muitos mil votos em branco – da próxima, quem sabe?
3 comentários:
Muito bem! 100% de acordo!
Um abraço MIL
A refletir... ponderando sempre prós e contras e no contexto do deserto lusófono dos programas partidários.
Apoiado!
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