Chegou ao fim o Projeto de Valorização da Educação Pré-Escolar no distrito de Lembá, uma iniciativa que, ao longo dos últimos anos, procurou inverter os índices preocupantes de acesso e qualidade na educação da primeira infância. Com intervenções técnicas, pedagógicas e comunitárias, o projeto deixa para trás não apenas um conjunto de resultados concretos, mas também um modelo replicável de transformação educativa em contextos vulneráveis.
Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e da UNICEF (2020), apenas 34,9% das crianças entre 36 e 59 meses frequentavam jardins de infância no distrito. Em paralelo, cerca de 60% dos profissionais do setor não possuíam formação adequada e estavam submetidos a condições laborais precárias, comprometendo o desenvolvimento cognitivo e social das crianças.
Este cenário motivou uma intervenção multidimensional, que abrangeu 13 jardins de infância, onde foram promovidas ações de formação contínua para educadores e auxiliares pedagógicos, introduzindo metodologias centradas na criança e inspiradas nos princípios da pedagogia ativa.
Um dos eixos estruturantes da intervenção foi a valorização de materiais pedagógicos produzidos com recursos naturais e tradicionais locais, como conchas marinhas, sementes de cacau, folhas, fibras e madeira. Estes materiais foram sistematizados de acordo com objetivos pedagógicos definidos, e organizados num catálogo de recursos didáticos que será disponibilizado a nível nacional.
A iniciativa não se limitou às salas de aula. Mais de 600 encarregados de educação foram envolvidos em sessões comunitárias de sensibilização, focadas na importância da educação infantil, higiene, alimentação e desenvolvimento emocional. As famílias passaram a reconhecer o valor da educação pré-escolar como uma etapa essencial para o futuro dos seus filhos.
Durante a cerimónia oficial de encerramento, realizada esta semana no distrito de Lembá, a coordenadora do projeto sublinhou que o término da intervenção representa “um ponto de transição e não de conclusão”. Os conteúdos pedagógicos continuarão acessíveis, a rede de educadores formada manterá atividades colaborativas, e o modelo de capacitação será defendido como exemplo de política pública para outras regiões.
Além disso, foi lançado um livro dedicado aos brinquedos e jogos tradicionais da primeira infância em São Tomé e Príncipe, com o propósito de integrar a sabedoria ancestral nas práticas educativas contemporâneas. O material será distribuído como ferramenta didática em centros de formação e escolas.
“Este projeto mostrou que é possível transformar a realidade da educação infantil com soluções locais, baixo custo e forte envolvimento comunitário. O que está em causa agora é garantir a sustentabilidade do que foi alcançado”, destacou Miguel Jarimba, coordenador nacional da Helpo.
O encerramento do projeto foi também um momento de balanço e articulação de futuras parcerias. Participaram representantes do Ministério da Educação, do Instituto Politécnico de Leiria, professores, técnicos municipais e membros da sociedade civil.
A experiência de Lembá torna-se agora uma referência nacional em práticas educativas inovadoras na infância, reforçando o apelo à institucionalização dos resultados. Há uma exigência clara: que o Estado tome a dianteira e assuma a responsabilidade pela continuidade das formações, pelo enquadramento digno dos educadores e pela expansão do acesso a jardins de infância em condições adequadas.
A jornada termina, mas o compromisso continua: nenhuma criança deve ser privada do seu direito de aprender, brincar e crescer num ambiente educativo seguro, inclusivo e culturalmente relevante. Waley Quaresma – São Tomé e Príncipe in “Téla Nón”
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