sábado, 12 de julho de 2025

Cinquenta anos depois, é tempo, de facto, de pedir desculpas

 


Cinquenta anos depois da nossa descolonização dita “exemplar”, é de facto, tempo, mais do que tempo, de pedir enfim desculpas – como tanto têm reclamado os detractores da nossa história.

Por uma vez, esses detractores, em cada vez maior número, têm razão: temos a obrigação de pedir desculpas por uma descolonização tão “exemplarmente má”.

E não estamos a falar em particular dos chamados, mal chamados, “retornados” – muitos deles nascidos em África e que, de um momento para o outro, se viram obrigados, em muitos casos apenas por terem um tom de pele mais claro, a regressar a um país que mal ou nada conheciam.

Sabemos que muitos deles não gostarão de ouvir o que se segue, mas di-lo-emos na mesma: se o seu sacrifício fosse o sacrifício necessário para que os países donde vieram prosperassem, então poderíamos, no limite, considerar que esse tinha sido um sacrifício “aceitável”, por mais que “tragicamente aceitável”.

Na verdade, porém, não foi nada disso que se passou. Com a expulsão dos chamados, mal chamados, “retornados”, esses países ficaram altamente depauperados a nível de mão-de-obra qualificada, o que desde logo inviabilizou qualquer miragem de real prosperidade. Para além disso, a prometida “libertação” nem chegou a ser sequer uma miragem. Basta dizer que, sem excepção, todos os novos regimes políticos que então emergiram foram regimes de partido único.

Cinquenta anos depois de todo esse processo, é de facto, tempo, mais do que tempo, de pedir enfim desculpas. Nós pedimos: a todos os chamados, mal chamados, “retornados” e, sobretudo, a todos os povos irmãos lusófonos, cuja prometida “libertação” foi realmente uma farsa, como, cinquenta anos depois, ainda é visível. Aluda-se apenas, para o atestar, ao que se tem passado, nestes últimos tempos, em Moçambique.

Renato Epifânio

5 comentários:

  1. Caro Amigo

    Tem toda a razão. Mas mais do que pedir desculpas, justifica-se pedir responsabilidades.
    Um abraço,
    Joaquim Domingues.

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  2. Sim, caríssimo Joaquim Domingues, sei disso
    Mas o texto também pretendia ser uma resposta a quem tanto exige que peçamos desculpas pela nossa história...
    Abraço!
    Renato

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  3. Francisco Garcao

    Muito bom, caro Renato, muito bom! Um forte abraço pela sua lucidez e aprumo corajoso!

    Vai a estima, sempre presente, do seu et nunc et semper

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  4. Anónimo16:43:00

    Muito bem Renato. Não há que ter medo de dizer... o que Angola e Moçambique em particular tem conhecido desde a independência é uma longa noite de corrupção, violência e miséria.

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  5. Anónimo14:21:00

    Gostei Renato, tal como lá também por cá devia ser pedido desculpas pelo prometido que não veio.
    Como retornado e espoliado tive de refazer como tantos a vida do zero, no entanto além das desculpas deveria haver agradecimento, pois fomos nós que viemos trazer o desenvolvimento à este país que estava na cauda da Europa.

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