segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Messias Ovimbundo

Contam-se hoje oito anos passados sobre a morte de Jonas Malheiro Savimbi.

Ainda me lembro dele, nos tempos do Liceu, em Sá da Bandeira. Era um negro elegante e muito educado, protegido pelos Irmãos Maristas. Naquele tempo, não era conhecido por Savimbi. Toda a gente lhe chamava Jonas.

Duas décadas depois, as suas imagens apareciam em toda a parte: jornais, revistas e televisões. Mudara. Ganhara peso e passara a usar barba. Tive dificuldade em reconhecê-lo e perguntei à gente da minha idade:

- É mesmo o Jonas?

Era. Liderava a UNITA. O seu Movimento chegou a colaborar com os militares portugueses no Leste de Angola, por volta de 1973, durante a famosa Operação Madeira. Mais tarde, aliou-se aos sul-africanos. Para enfrentar o MPLA, até se teria juntado ao diabo. Pretendia ganhar um lugar ao sol da independência.

Desempenhou o papel que a História lhe reservara. Ele, que nunca foi um democrata, cresceu com a democracia. Arrastava multidões atrás da sua palavra. Terá sido um dos maiores oradores da África moderna. Diziam as más-línguas que, nos seus longos discursos, ao falar em umbundo, perspectivava, para os negros que o escutavam, uma realidade bem diferente da que prometia aos seus ouvintes europeus.

Foi abatido em 22 de Fevereiro de 2002.

Não se pode saudar a morte de um homem, mas podem-se dar vivas à paz que se lhe seguiu.


Fotos: Comício: Fernando Castro. Savimbi: Internet.
Também publicado em decaedela.

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