sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Lira Insubmissa, Carta



Oitavo Fragmento


48 - Enquanto se pode falar de um sistema mafioso, o sistema culminará inevitavelmente mafioso.

49 - A estratégia da máfia consiste da infiltração na sociedade civil, nas instituições e na vida pública.

50 - A cada órgão a sua respectiva degeneração e morte. A morte inevitável e o futuro do sistema burguês é a máfia (os valores já eram, seja como for, devidamente escassos).

51 - Se algo incorrupto existe nos mundos, as multidões o cobrem e vão depois roê-lo com a fome que compete às multidões – a manifestação viva do pó que corrói tudo o que se quer erecto. O mundo acaba na boca do verme, detentor do poder máximo.

52 - Aceitar a ordem descendente do mundo sistemático é tornar-se o bobo do bobo (nesta época, é essa a forma de ser-se sábio, o bobo do bobo é mais sábio que o seu amo, o primeiro bobo).

53 - Da mesma forma, teria Nietzsche adivinhado o seu futuro sem agrado, ao, depois de fazer do pensamento um teatro, atacar a teatralidade de Wagner. Mas a aceitação da morte é a apoteose do conceito de liberdade de Bento de Spinoza.
[Existem precedentes, como por exemplo a Maçonaria, que dispensando a realidade, colocou no seu lugar uma codificação auto-referencial, esta um dos maiores tubarões dentro da máfia]

54 - Estamos, inadvertidamente, a chegar a uma conclusão maldita, que Gilles Deleuze explica como "a queda de um processo molecular num buraco negro". A conclusão é como se segue: "São os organismos que morrem, não a vida." Apresentamos neste parágrafo a componente material da nomádica “Máquina de Guerra”, o “Corpo-sem-Órgãos”.

55 - De repente, o maleável rosto magro de Antonin Artaud, como uma língua branca de Lua, a representar uma outra morte, a ceifar os corpos mortos para que voltassem a viver dentro de si, e viesse a chama aos homens.

57- “A questão que se coloca é de permitir que o teatro reencontre a sua verdadeira linguagem, linguagem espacial, linguagem de gestos, de atitudes, de expressões e de mímica, linguagem de gritos e onomatopéias, linguagem sonora, onde todos os elementos objectivos se transformam em sinais, sejam visuais, sejam sonoros, mas que terão tanta importância intelectual e de significados sensíveis quanto a linguagem de palavras.” Antonin Artaud

56 - Assim, a quebra formal da linguagem e das cadeias de hiper-realidade estabelecidas pela propaganda das máfias, a re-elaboração do pensamento, que há muito vive fechado sobre si mesmo - perdido e todavia não aceitando o desconhecido -, eliminar a soberania desse mesmo teatro mercantilista sobre a vida (produtora em massa da burrice e do consumo), e devolver a força de vida ao seu papel principal dentro da cultura, interrompendo o automatismo – inimigo máximo da inteligência.

57 - O que virá, não sabemos. Provavelmente uma outra forma de automatismo, que nos é ainda estranha, e que destruirá por completo os intelectos mais fracos. Mas sabemos que haverá sangue.


André Consciência


Theatre of Cruelty, Aviram Elior, 2007

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