quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Agustina Bessa-Luís na NOVA ÁGUIA

 

A Revista Nova Águia, lançada no primeiro semestre de 2008, como herdeira, no século XXI, da Revista A Águia, tem procurado e conseguido, desde o primeiro número, a colaboração dos autores maiores da nossa cultura lusófona, desde logo na área da Filosofia. Por isso, tivemos o apadrinhamento expresso de figuras tão relevantes como António Telmo, Manuel Ferreira Patrício e Pinharanda Gomes (infelizmente, os três já falecidos), bem como o de António Braz Teixeira – nos dias de hoje, o maior representante vivo da Filosofia Portuguesa.

Para além desse apadrinhamento, tivemos igualmente o “amadrinhamento” de outras figuras não menos relevantes – como Dalila Pereira da Costa e de Agustina Bessa-Luís, que, por mediação da sua família, nos fez chegar, para o primeiro número, um texto inédito, intitulado “O fantasma que anda no meu jardim”. É um texto breve, mas que tem bem a marca da sua autoria, com reflexões tão lapidares quanto sábias, como esta: “Nós vivemos numa época de más razões. São obstinadas, tendenciosas, grosseiras até. Afirmamos demasiado, não esperamos a definição dos factos; queremos intervir demasiado, quando afinal a intervenção é um prodígio em acordo com o sentido das coisas”.

Por conhecidas razões de saúde, Agustina Bessa-Luís não voltou a publicar na Nova Águia. Sendo que nunca a esquecemos. Houve já vários textos sobre a sua obra publicados – nomeadamente, um texto sobre as suas origens: “Agustina: memória das origens”, de António José Queiroz (in Nova Águia nº 25, 1º semestre de 2020). Isto para além de alguns poemas a ela expressamente dedicados – como este: “A minha pátria é de chão de Pascoaes/ Árvore de Camões/ E lírica de Camilo/ Sofrida como uma maçã de Cesário/ Um rasgo de Al berto/ E a mão de Pessoa/ O olho-tigre de Agostinho/ E o silêncio de Agustina…” (“A minha Pátria”, de Isabel Mendes Ferreira, in Nova Águia nº 1, 1º semestre de 2008).

Chegados entretanto ao trigésimo número da Revista – que, semestre após semestre, nunca falhou nenhum voo –, também nós sentimos o peso do “silêncio de Agustina”. Sem, porém, nunca esquecermos a sageza das suas palavras, que vale bem a pena ouvir de novo: “Nós vivemos numa época de más razões. São obstinadas, tendenciosas, grosseiras até. Afirmamos demasiado, não esperamos a definição dos factos; queremos intervir demasiado, quando afinal a intervenção é um prodígio em acordo com o sentido das coisas”. Chegados entretanto ao trigésimo número da Revista, é assim mesmo que procuramos intervir: “em acordo com o sentido das coisas”. Tarefa difícil, bem o sabemos, tanto mais que a Nova Águia tem como horizonte de intervenção não apenas Portugal mas todo o espaço da Lusofonia. Não desistiremos, porém. Voamos acompanhados pela memória viva dos nossos melhores.

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