Autárquicas 2013: Unir esforços!
Foi
um resultado agridoce, para quem, como nós, tanto se tem batido contra a
partidocracia, em prol da regeneração da nossa democracia.
É
verdade que, nestas eleições autárquicas, houve treze candidatos
independentes eleitos – mas, importa reconhecê-lo, parte desta equipa
não nos deve orgulhar. A excepção mais evidente foi a vitória de Rui
Moreira, no Porto – prova de que uma candidatura verdadeiramente
independente pode ganhar numa grande cidade.
Quanto ao mais, ganhou a inércia da alternância partidocrática. Mesmo
havendo candidatos do PS particularmente maus, muitos deles ganharam. O
mesmo já havia acontecido quando o PS estava no Governo – então, foram
beneficiados os actuais partidos governamentais.
À esquerda, o
PCP esmagou o Bloco anti-piropos e, importa reconhecê-lo, de forma
inteiramente justa: por vezes, o trabalho e a coerência são
reconhecidos. No universo dos partidos extra-parlamentares, nada de
novo: o arqueológico PCTP-MRPP reafirmou, à escala nacional, a sua
posição de partido liderante, por mais de cinco mil votos. O que
significa que, desse universo, nada há a esperar. O futuro não virá daí.
A regeneração da nossa democracia terá que passar por algo realmente
diferente – pela convergência de muitos dos movimentos cívicos
independentes numa mesma plataforma eleitoral. Que estas eleições
autárquicas sirvam sobretudo para isso. Para iniciar esse caminho de
convergência. Enquanto perdurar a “lógica da quintinha”, não iremos a
lado algum. É necessário unir esforços!
Renato Epifânio
Publicado em:
A regeneração da nossa democracia só efectivamente acontecerá com uma mudança de regime... que elimine, entre outros males, a partidocracia vigente.
ResponderEliminarA regeneração da nossa democracia passa por uma revolução no sistema partidário português, e para isso podem contribuir movimentos no interior dos partidos, criação de novos partidos e, também, movimentos de independentes de verdade (o que voltou a não acontecer nestas eleições, talvez com a exceção do liderado por Rui Moreira, uma vitória contra o caciquismo e a demagogia).
ResponderEliminarÉ verdade que alguns candidatos maus do PS ganharam, o mesmo se poderá dizer de alguns das listas do PSD e do PSD/CDS,para sermos mais sinceros.
Por ora não sou muito adepto dos chamado movimentos cívicos independentes, na sua maioria paridos pelas actuais estruturas partidárias - apóstatas e ressabiados, os das listas B que perderam contra os das listas A.
Apesar da confusão que vai no nosso sistema partidário e na "classe" política em geral, como é exemplo os que presentemente estão no poder, fiquei com a impressão de que a nossa democracia ainda está forte, capaz de dar lições como aquela que teve lugar no Porto, com um chefe de bando de direita a sofrer humilhante derrota. A nossa vida política foi tomada por bandos, de direita e de esquerda.
A independência partidária não tem representação, porque é feita de independentes. Recordo-me, aliás, dos tempos do PREC que a independência era tida como uma exclusividade da esquerda, com a afirmação frequente de representações de "independentes de esquerda"... Isto a propósito de que também há independentes dentro dos partidos canónicos, e essa, a meu ver, é também uma forma de contribuir para esse desígnio revolucionário de Portugal (e não só!) de superar o reduccionismo da esquerda/direita (do norte/sul, etc.)
ResponderEliminarMiguel Melo Bandeira (Braga)
Subscrevo quase por inteiro o comentário do Templário.
ResponderEliminarNa verdade, a quase totalidade das candidaturas "independentes" mais não eram do que dissidentes de vários partidos. A execrção ter´+a sido Rui Moreira, no Porto, mas, mesmo esse foi apoiado por um partido (CDS) e tinha militantes de outro partido a apoiá-lo também (Miguel Veiga e Valente de Oliveira do PSD e provavelmente o anterior presidente da CMPorto).
Assim, creio que, nesta altura, seria de estimular os militantes sérios, honestos e competentes que existem nos partidos a desencadearem movimentos internos tendentes a uma regeneração partidária, que o país e a democracia exigem.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarPor Luísa Tomóteo (Coordenadora do MIL-Malaca):
ResponderEliminarEstimado Renato
Para acrescentar as autárquicas:
A quase metade do povo que faltou com seu voto em liberdade,
significa uma pesada ignorância que vem de longe. A literacia como
combate, deve ser uma grande vontade de todos aqueles que o podem e
devem fazer:
movimentos cívicos e de cidadania, pessoas singulares que felizmente
encontramos todos os dias, mas por vezes a inveja impede que sejam
chamados ao grande palco da democracia, palco que desejamos vai
seculos. Alertar que a fraternidade, valor que ensina o bem, deve ser
praticado como exemplo no ensino, desde a pré-escolar ao ensino
superior, bem como o orgulho de sermos portugueses que abrimos portas
ao mundo.
Com esta para refletir deixo o lindo poema
Bem hajas
Pois bem!
Por Afonso Lopes Vieira
1878 - 1946
Se um inglês ao passar me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
Se nas Índias flutua essa bandeira inglesa,
fui eu que t'as cedi num dote de princesa.
e para te ensinar a ser correcto já,
coloquei-te na mão a xícara de chá...
E se for um francês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Recorda-te que eu tenho esta vaidade imensa
de ter sido cigarra antes da Provença.
Rabelais, o teu génio, aluno eu o ensinei
Antes de Montgolfier, um século! Voei
E do teu Imperador as águias vitoriosas
fui eu que as depenei primeiro, e às gloriosas
o Encoberto as levou, enxotando-as no ar,
por essa Espanha acima, até casa a coxear
E se um Yankee for que me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Quando um dia arribei à orla da floresta,
Wilson estava nu e de penas na testa.
Olhava para mim o vermelho doutor,
— eu era então o João Fernandes Labrador...
E o rumo que seguiste a caminho da guerra
Fui eu que to marquei, descobrindo a tua terra.
Se for um Alemão que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Eras ainda a horda e eu orgulho divino,
Tinha em veias azuis gentil sangue latino.
Siguefredo esse herói, afinal é um tenor...
Siguefredos hei mil, mas de real valor.
Os meus deuses do mar, que Valhala de Glória!
Os Nibelungos meus estão vivos na História.
Se for um Japonês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Vê no museu Guimet um painel que lá brilha!
Sou eu que num baixel levo a Europa á tua ilha!
Fui eu que te ensinei a dar tiros, ó raça
belicosa do mundo e do futuro ameaça.
Fernão Mendes Zeimoto e outros da minha guarda
foram-te pôr ao ombro a primeira espingarda.
Enfim, sob o desdém dos olhares, olho os céus;
Vejo no firmamento as estrelas de Deus,
e penso que não são oceanos, continentes,
as pérolas em monte e os diamantes ardentes,
que em meu orgulho calmo e enorme estão fulgindo:
— São estrelas no céu que o meu olhar, subindo,
extasiado fixou pela primeira vez...
Estrelas coroai meu sonho Português!
P.S.
A um Espanhol, claro está, nunca direi: — Pois bem!
Não concebo sequer que me olhe com desdém.
Concordo, na essência, com o que foi dito nos comentários anteriores, principalmente os dois primeiros. A renovação da nossa democracia passa pela eliminação da «partidocracia» que hoje temos. Mas como chegar lá ? Por um lado os partidos são indispensáveis à democracia.Mas por outro, é preciso que se reformem eles mesmos a partir de dentro, o que é como «a pescadinha de rabo na boca». Os «independentes» são necessários, mas precisam de ter representatividade da respectiva parcela de «opinião pública». Francamente, não vejo fórmula mágica para resolver este nosso problema. Talvez passe, primeiro, por reconhecer o «problema», como tal, quaisquer que sejam as consequências e as ilacções a tirar. Isso passa, antes do mais, por reformas no interior dos partidos existentes, ou outros que possam surgir.
ResponderEliminarVIRGÍLIO CARVALHO.